sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Qual a diferença entre simplesmente passar de um ano para o outro e verdadeiramente aproveitar a oportunidade de um novo começo? Na carta aos Filipenses 3.12-14, o apóstolo Paulo nos encoraja a seguir em frente em direção ao alvo, deixando o que ficou para trás e avançando para o que está adiante.

Muitas vezes, ao chegar ao final de um ano, fazemos planos e promessas para o próximo, mas será que realmente estamos dispostos a nos comprometer com as mudanças que prometemos fazer? Será que estamos dispostos a deixar para trás o que nos impede de crescer e avançar em direção aos nossos objetivos?

Você precisa saber que existe uma diferença entre compromisso e comprometimento, entre promessa e cumprir o que você prometeu. O Compromisso é a decisão que você diz que vai tomar em fazer alguma coisa: este ano vou para a academia, vou fazer regime, vou me dedicar mais a ler a Bíblia e a orar, vou aprimorar minhas habilidades em determinada área, vou abandonar aquele vício que me atrapalha. Porém, se você não estiver comprometido em agir, serão apenas promessas de fim de ano, e ao chegar o fim deste ano que acabou de começar, a questão é: será que você viveu um novo ano ou foi só mais um ano novo que passou?

O pior de tudo são as justificativas que arrumamos (ou pode ser que até já as tenha) para dizer que não fizemos o que disse que faríamos: não tive tempo, surgiram outras prioridades, faltou dinheiro, faltou motivação, chegaram os filhos, fiquei doente, fiquei com medo de assumir riscos e fracassar, faltou, faltou e faltou, e por aí vai.

Neste texto de Filipenses, Paulo nos lembra que devemos esquecer o que passou e nos esforçar para alcançar o que está adiante. Isso requer coragem, determinação e fé. Precisamos ter a consciência de que somos seres em constante processo de transformação, em busca de crescimento. E crescer não é algo que acontece automaticamente, pelo menos não em relação a nossa vida, nossos sonhos, nossos objetivos, nossa vida com Deus. É preciso ser intencional e consistente.

Em vez de simplesmente passar de um ano para o outro, que tal encarar o novo ano como uma oportunidade de renovação e transformação? Que tal se comprometer a deixar para trás velhos hábitos, crenças limitantes e padrões de comportamento que te impedem de alcançar o alvo, ser a pessoa que Deus te criou para ser?

Quero te desafiar a fazer uma escolha: você quer apenas mais um ano novo, com as mesmas velhas desculpas e justificativas ao final deste ano para não fazer o que precisava ser feito? Ou você está disposto a se comprometer com um novo ano, cheio de possibilidades e oportunidades de crescimento? Saiba que para isso, você precisará muito mais do que motivação. Comece estabelecendo seus alvos ou alvo e saiba exatamente aonde você quer chegar. Saia do piloto automático. Quando você se deixa levar pelo piloto automático, os resultados não são positivos. Tudo piora. Você acaba falando coisas que não deveria e fazendo coisas que não podem ser desfeitas. Mesmo que consiga alcançar objetivos imediatos, não percebe que seus propósitos verdadeiros e mais importantes estão se distanciando cada vez mais. Muitas vezes, as pessoas acreditam que suas vidas poderiam ser melhores e, ao não alcançarem seus objetivos, buscam maneiras de se desculpar culpando outras pessoas ou as circunstâncias. Fazer mudanças requer muito mais do que força de vontade. Comece com pequenas mudanças, dar o primeiro passo é mais importante do que dar um grande salto. Às vezes, pode parecer que as pequenas mudanças que você faz em sua vida não estão fazendo diferença. Mas, com o tempo, essas pequenas melhorias se acumulam e se tornam grandes o suficiente para serem notadas. Você perceberá que está gastando menos tempo lidando com problemas que nem deveriam existir e que sua vida mudando, você estará cada dia um passo mais perto do seu objetivo. Você se sentirá menos estressado e ansioso, como se tudo estivesse se encaixando perfeitamente. Mantenha seu olhar fixo em Jesus e siga em frente com determinação e propósito, buscando o prêmio que Ele tem reservado para você, e permita que Sua Palavra guie seus pensamentos e ações. É como se Jesus estivesse segurando sua mão, e te conduzindo pelo melhor caminho, e Ele é o melhor e único Caminho. Que este ano novo seja verdadeiramente um novo ano, de renovação e transformação em todas as áreas de sua vida. Vamos juntos fazer deste novo ano, um ano novo!


segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

A questão do livre arbítrio - será que realmente somos livres?

A questão do livre arbítrio é tema debatido ao longo da história da teologia cristã, especialmente dentro da tradição reformada. A complexidade dessa discussão reside na relação entre a soberania de Deus, a responsabilidade humana e a natureza do pecado. Ao abordarmos essa questão, é imprescindível compreender a condição do homem em relação ao pecado e a liberdade que encontramos em Cristo. No contexto reformado, a doutrina da depravação total é um ponto de partida fundamental. Esta doutrina enfatiza que, devido à Queda, a capacidade do ser humano de escolher o bem foi severamente corrompida. A partir de Gênesis, vemos que o pecado não afetou apenas a relação entre Deus e a humanidade, mas também obscureceu a capacidade do homem de fazer escolhas verdadeiramente livres, na medida em que está inclinado a buscar seu próprio interesse e a desobedecer a Deus, ou seja sua vontade ficou subjugada ao pecado. Veja o que diz Romanos 3:10-12: “Como afirmam as Escrituras: "Ninguém é justo, nem um sequer. Ninguém é sábio, ninguém busca a Deus. Todos se desviaram, todos se tornaram inúteis. Ninguém faz o bem, nem um sequer." E o profeta Isaías também disse: “Estamos todos impuros por causa de nosso pecado; quando mostramos nossos atos de justiça, não passam de trapos imundos. Como as folhas das árvores, murchamos e caímos, e nossos pecados nos levam embora como o vento.” (Isaías 64.6). Nesse sentido, o livre arbítrio, tal como muitas vezes é entendido, é limitado por essa inclinação ao pecado.

Desta forma fica o questionamento: “Será que somos realmente livres, o ser humano tem liberdade para fazer suas escolhas?” Essa pergunta, quando mal-entendida, leva muitos a dizerem: “Mas é claro que sou livre, posso fazer o que eu quiser com a minha vida, inclusive escolher se vou ou não seguir a Deus.” Embora, pareça a questão pareça válida, contudo, ela não leva em consideração a perspectiva que a Bíblia apresenta da condição e da natureza em que a pessoa sem Cristo se encontra. Veja o que diz Efésios 2.1-3: “Vocês estavam mortos por causa de sua desobediência e de seus muitos pecados, nos quais costumavam viver, como o resto do mundo, obedecendo ao comandante dos poderes do mundo invisível (isto é o diabo). Ele é o espírito que opera no coração dos que se recusam a obedecer. Todos nós vivíamos desse modo, seguindo os desejos ardentes e as inclinações de nossa natureza humana. Éramos, por natureza, merecedores da ira, como os demais.” E nas palavras do próprio Jesus: “Jesus respondeu: — Em verdade, em verdade lhes digo que todo o que comete pecado é escravo do pecado.” (João 8.34); e Pedro em sua carta escreve: “Prometem-lhes a liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor.” (2Pedro 2.19). Por esses textos, podemos perceber que as pessoas são escravas do pecado, sua natureza caída, faz com que suas escolhas sejam condicionadas pela vontade da carne.  

No entanto, a tradição reformada não se limita a uma visão pessimista da condição humana. A esperança que encontramos em Jesus Cristo é central para a teologia reformada e oferece uma nova perspectiva sobre o livre arbítrio. Através da redenção em Cristo, somos chamados a uma nova vida e, por meio do Espírito Santo, somos capacitados a fazer escolhas que glorificam a Deus. Em 2 Coríntios 5:17, Paulo nos lembra que "se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo". E Jesus disse: “Se, pois, o Filho os libertar, vocês serão verdadeiramente livres.” (João 8.34). Essa transformação implica que, embora a natureza humana esteja inclinada ao pecado, aqueles que estão em Cristo recebem a liberdade verdadeira — a capacidade de escolher o bem e de se submeter à vontade de Deus. Contudo, isso só é possível para aqueles que reconhecem a obra de Cristo e o recebem como seu Senhor e Salvador – “Mas, a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus.” (João 1.12) e “Agora, portanto, já não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus. Pois em Cristo Jesus a lei do Espírito que dá vida os libertou da lei do pecado, que leva à morte.” (Romanos 8.1-2).  

Ao longo dos séculos, pensadores reformados, como Agostinho, Calvino e mais recentemente, John Piper, refletiram sobre essa tensão entre a soberania divina e o livre arbítrio humano. Agostinho, por exemplo, enfatizava a necessidade da graça de Deus para a salvação, argumentando que, sem a intervenção divina, o homem estaria irremediavelmente perdido. Calvino, por sua vez, desenvolveu a ideia da predestinação, que, embora frequentemente mal interpretada, enfatiza a soberania de Deus na salvação, assegurando que aqueles que são escolhidos por Ele são também capacitados a responder a esse chamado.

A tensão entre livre arbítrio e a escravidão do pecado é, portanto, um convite à reflexão profunda sobre o que significa ser verdadeiramente livre. A liberdade que encontramos em Cristo não é uma liberdade para fazer qualquer escolha, mas uma liberdade para escolher o que agrada a Deus, a partir da transformação operada pelo Espírito Santo em nossos corações. Isso nos leva a um relacionamento mais profundo com Deus, onde a verdadeira liberdade se manifesta em obediência e amor.

Este artigo vai explorar a conexão entre livre arbítrio, a escravidão do pecado e a esperança em Jesus, utilizando passagens bíblicas e reflexões de autores reformados. O objetivo é entender esses conceitos e aplicá-los na prática, reconhecendo que a verdadeira liberdade se encontra na confiança e dependência de Deus.

A Escravidão do Pecado

A Bíblia descreve a condição humana em termos de escravidão ao pecado. Em Romanos 6:16, Paulo afirma: "Não sabeis que, a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, seja do pecado para a morte, seja da obediência para a justiça?" Este versículo ilustra de maneira clara que, antes da regeneração, o homem está aprisionado ao pecado e não possui a capacidade de escolher o bem sem a intervenção divina. A linguagem utilizada por Paulo é poderosa, pois nos convida a refletir sobre as implicações profundas da nossa condição espiritual.

O conceito de escravidão do pecado está intimamente ligado à doutrina da depravação total, que ensina que, devido à queda do homem, todas as faculdades do ser humano – mente, vontade e emoção – estão afetadas pelo pecado. Isso significa que cada aspecto da nossa existência é influenciado por essa corrupção. A depravação total não implica que os seres humanos são tão maus quanto poderiam ser, mas que, em nossa natureza caída, estamos inclinados a rejeitar a Deus e a Sua verdade. Neste ponto é que as pessoas precisam entender a questão de que o ser humano não tem livre-arbítrio, a sua relação com Deus foi rompida pelo pecado (Veja Isaias 59.2 e Romanos 3.23). Como resultado, o homem natural é incapaz de buscar a Deus ou de escolher o bem por si mesmo.

Essa condição não implica que o homem não tenha vontade; ao contrário, a Escritura reconhece que todos nós temos a capacidade de tomar decisões. No entanto, a nossa vontade está inclinada ao pecado. É como se estivéssemos em uma prisão, onde as grades são formadas por nossos próprios desejos egocêntricos e pela corrupção inerente à nossa natureza. Mesmo quando tentamos fazer o bem, muitas vezes somos arrastados por essa inclinação, que nos leva a escolhas que refletem nossa condição pecaminosa.

A escravidão do pecado não é apenas uma questão de comportamento, mas envolve uma luta interna, uma batalha espiritual que se desenrola em nosso interior. Paulo, em Gálatas 5:17, descreve essa luta ao afirmar que "a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; porque são opostos entre si". Essa batalha revela a dualidade da experiência humana: por um lado, o desejo de agradar a Deus e, por outro, a tentação de sucumbir ao pecado. Essa realidade nos leva à necessidade de uma intervenção externa, algo que vai além de nossos próprios esforços e vontades.

É nesse contexto que o evangelho se torna uma mensagem de esperança. A boa nova é que, através de Cristo, temos acesso à libertação dessa escravidão (Gálatas 5.1). A liberdade que Cristo oferece não é a ausência de servidão, mas uma nova servidão, onde passamos de servos do pecado para servos da justiça. Essa transformação é um ato de graça divina, que nos capacita a viver de maneira diferente, a buscar o bem e a obedecer a Deus. A nossa vida é uma questão de “A quem estamos servindo?” Existem dois reinos em batalha: o Reino de Deus, inaugurado por Cristo e o Reino das Trevas, e foi para isso que Cristo veio, para nos libertar do Reino das Trevas e nos levar para o Reino da Luz (Veja Colossenses 1.9-14 e Hebreus 2.14-15).

Assim, a escravidão do pecado é um tema fundamental na compreensão da condição humana. É um lembrete constante de nossa necessidade de redenção e da importância da ação sobrenatural de Deus em nossas vidas. Somente por meio da fé em Jesus Cristo, podemos experimentar a verdadeira liberdade e a restauração de nossa natureza, permitindo-nos viver em obediência e em comunhão com o nosso Criador. O convite é claro: é necessário reconhecer nossa condição, clamar por libertação e permitir que a graça de Deus transforme nossos corações e mentes, guiando-nos em uma nova direção, onde o pecado não mais nos domina, mas onde somos guiados pela luz da verdade e da justiça.

O Livre Arbítrio na Perspectiva Reformada

Na tradição reformada, a compreensão do livre arbítrio é intricada e distinta, especialmente quando contrastada com a visão arminiana. Enquanto os arminianos enfatizam a capacidade do ser humano de escolher entre o bem e o mal, os reformados sustentam que o livre arbítrio do homem é limitado e, em última análise, corrompido pelo pecado original. Esta visão se fundamenta na doutrina da total depravação, que afirma que, sem a intervenção divina, o homem está completamente incapaz de buscar a Deus ou fazer o bem por conta própria (em Romanos 7, o apóstolo Paulo fala da constante luta da velha natureza corrompida pelo pecado e o desejo de fazer o que agrada a Deus).

A natureza pecaminosa do ser humano, conforme descrita em Romanos 3:23, "Porque todos pecaram e carecem da glória de Deus", implica que, em seu estado natural, o ser humano não possui a liberdade verdadeira para escolher o que é bom. Essa escravidão ao pecado é uma condição que se reflete em suas escolhas e ações, que, embora possam parecer livres, estão, na verdade, condicionadas por sua natureza caída.

É somente através da graça de Deus e da obra regeneradora do Espírito Santo que o homem pode ser libertado dessa prisão espiritual (João 16.7-11). A regeneração é uma transformação interior que permite ao indivíduo não apenas reconhecer sua necessidade de salvação, mas também capacitá-lo a fazer escolhas que glorifiquem a Deus. Em Efésios 2:8-9, Paulo nos lembra: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie." Essa passagem ressalta a ideia de que a salvação é um ato soberano de Deus, que não depende das obras humanas, mas é um presente divino que transforma o coração e a mente. Essa transformação do coração é a base das promessas que Deus fez através dos profetas Jeremias e Ezequiel:

"E esta é a nova aliança que farei com o povo de Israel depois daqueles dias", diz o Senhor. "Porei minhas leis em sua mente e as escreverei em seu coração. Serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.34 E não será necessário ensinarem a seus vizinhos e parentes, dizendo: ‘Você precisa conhecer o Senhor’. Pois todos, desde o mais humilde até o mais importante, me conhecerão", diz o Senhor. "E eu perdoarei sua maldade e nunca mais me lembrarei de seus pecados." (Jeremias 31.33-34)

“Eu lhes darei um coração novo e porei dentro de vocês um espírito novo. Tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne. Porei dentro de vocês o meu Espírito e farei com que andem nos meus estatutos, guardem e observem os meus juízos.” (Ezequiel 36.26-27)

Com essa transformação, o crente é agora dotado de um novo desejo e uma nova capacidade de escolher o bem. Através do Espírito Santo, o fiel é guiado a viver de acordo com os princípios de Deus, encontrando verdadeira liberdade não na autonomia, mas na submissão à vontade divina. Essa liberdade é descrita em Gálatas 5:13, onde Paulo ensina que "vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; não useis, porém, a liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor". Aqui, a verdadeira liberdade é entendida como a capacidade de amar e servir a Deus e ao próximo, em vez de ser escravo das paixões e desejos pecaminosos.

Portanto, na perspectiva reformada, o livre arbítrio não é simplesmente uma questão de escolha, mas de transformação. O homem, ao ser regenerado, não só é liberto da escravidão do pecado, mas também é capacitado a viver uma vida que reflete a glória de Deus. Essa visão nos convida a compreender a salvação como um ato de graça soberana, onde o papel do ser humano é responder a essa graça com fé e obediência, reconhecendo que, em última análise, é Deus quem opera tanto o querer quanto o realizar em nós, sem negar a responsabilidade humana (Filipenses 2:12-13). Assim, a verdadeira liberdade, segundo a tradição reformada, é encontrada na submissão ao Senhor e na vivência dos Seus mandamentos, que são bons e perfeitos.

A Esperança em Cristo

A esperança que temos em Cristo é central para a nossa libertação da escravidão do pecado. Em João 8:36, Jesus declara: "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres." Essa liberdade não é apenas uma libertação do juízo do pecado, mas também uma capacitação para viver de acordo com a vontade de Deus. É uma transformação radical que nos permite não apenas escapar das correntes do pecado, mas também abraçar uma nova identidade como filhos e filhas do Altíssimo.

A vitória sobre o pecado é uma realidade que se torna nossa pela fé. Romanos 6:14 afirma: "Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça." A graça de Deus não apenas perdoa os pecados, mas também capacita os crentes a viverem em santidade e a resistirem às tentações. É essa graça que nos sustenta em momentos de fraqueza, lembrando-nos de que não estamos sozinhos na luta contra o mal. Cada vez que caímos, somos convidados a levantar novamente, confiando na misericórdia divina que se renova a cada manhã (Lamentações 3.21-23).

Além disso, essa esperança em Cristo nos oferece um propósito e uma direção em nossas vidas. Em Efésios 2:10, lemos que somos "feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas." A libertação que experimentamos não é um fim em si mesma, mas um meio pelo qual somos chamados a viver uma vida que glorifica a Deus. A nossa esperança se traduz em ações concretas que refletem o amor e a graça que recebemos.

É importante reconhecer que essa jornada não é isenta de desafios. Diariamente, somos confrontados com tentações e distrações que podem nos levar de volta à escravidão do pecado, pois embora tenhamos a nova identidade e uma nova natureza, ainda habitamos num corpo que precisa e será glorificado. Desta forma, seremos como Jesus, sem pecado (1João 3.1-4). No entanto, em 1 Coríntios 10:13, encontramos a promessa de que Deus é fiel e não permitirá que sejamos tentados além do que podemos suportar. Ele sempre nos oferece uma saída, um caminho de volta à liberdade. Essa certeza fortalece a nossa esperança, pois sabemos que, em Cristo, temos um Mediador que intercede por nós e nos dá a força necessária para resistir (Veja Hebreus 4.14-16).

A nossa esperança em Cristo não é apenas uma realidade individual; ela é comunitária. A Igreja, como o corpo de Cristo, é um espaço onde podemos encorajar uns aos outros, compartilhar nossas lutas e celebrar nossas vitórias. Em Hebreus 10:24-25, somos exortados a considerar como estimular uns aos outros ao amor e às boas obras, não abandonando a nossa congregação. A esperança que temos em Cristo se torna mais rica e significativa quando vivemos em comunhão, apoiando-nos mutuamente na caminhada de fé. Sozinho, nós caímos, falhamos e erramos, e mesmo estando na igreja isso pode acontecer, porém, ali temos irmãos e irmãs que estão na mesma luta e propósito, e que juntos e apoiando uns aos outros seguem firmes na jornada de fé e luta contra o pecado.

Portanto, ao olharmos para a cruz e ao reconhecermos a profundidade da graça que nos foi concedida, somos lembrados de que a esperança em Cristo é poderosa e transformadora. É uma esperança que nos liberta, nos capacita e nos impulsiona a viver de maneira que glorifique a Deus. Em todas as circunstâncias, podemos ter confiança de que, em Cristo, somos mais que vencedores, e que a nossa verdadeira liberdade é uma realidade que já nos pertence.

Conclusão

Em suma, a doutrina do livre arbítrio e a escravidão do pecado, quando compreendidas à luz da Escritura, revelam a maravilhosa esperança que temos em Cristo. Embora o homem, em seu estado natural, esteja preso ao pecado, a graça de Deus oferece libertação e a capacidade de escolher o bem. Por meio da fé em Jesus, recebemos a vitória sobre o pecado e a liberdade para viver de acordo com a vontade de Deus.

A compreensão do livre arbítrio nos permite reconhecer que, apesar das limitações impostas pelo pecado, somos dotados pela fé em Cristo e pelo poder do espírito Santo que passa a habitar o coração daqueles que crê, da capacidade de tomar decisões que moldam o nosso caráter e destino. A Escritura nos ensina que, ao aceitarmos a mensagem do evangelho, somos transformados de dentro para fora. Essa transformação não é apenas um ato de perdão, mas um processo contínuo de renovação que nos capacita a resistir às tentações e a viver em conformidade com os princípios do Reino de Deus.

A escravidão do pecado, por outro lado, nos lembra da gravidade da condição humana sem a intervenção divina. O apóstolo Paulo, em suas cartas, frequentemente aborda a luta interna do crente, evidenciando a batalha entre a carne e o espírito. Essa luta é uma prova de que, apesar de sermos libertos, ainda enfrentamos desafios diários que exigem vigilância e comprometimento com a fé. Contudo, é exatamente nesse contexto que a graça de Deus se torna palpável. Ela não só nos perdoa, mas também nos fortalece e nos sustenta em nossa jornada espiritual.

Ademais a esperança que encontramos em Cristo é uma esperança ativa. Não se trata apenas de uma expectativa passiva de um futuro glorioso, mas de um convite para viver de maneira plena no presente. Essa vida abundante é caracterizada por relacionamentos restaurados, propósito e a capacidade de amar incondicionalmente. Ao exercermos nosso livre arbítrio para seguir a Cristo, nos tornamos agentes de transformação no mundo ao nosso redor, refletindo a luz e o amor de Deus em todas as nossas interações.

Portanto, ao encerrar esta reflexão, quero lembrá-los que a verdadeira liberdade não é a ausência de regras, mas a capacidade de escolher o bem em meio à tentação. Com a ajuda do Espírito Santo, somos capacitados a viver em obediência, experimentando a alegria e a paz que vêm de estar alinhados com a vontade de Deus. Assim, a doutrina do livre arbítrio e a libertação do pecado nos conduzem a uma vida de gratidão e serviço, onde podemos glorificar ao Senhor em todas as coisas. Que possamos sempre nos lembrar de que, em Cristo, somos mais do que vencedores e que nossa liberdade é um testemunho da Sua graça transformadora.

Referências Bibliográficas

1.    Agostinho de Hipona. A Cidade de Deus. São Paulo: Editora Paulus, 2003.

2.    Calvino, João. Institutas da Religião Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2015.

3.    Lutero, Martinho. A Liberdade do Cristão. São Paulo: Editora Martin Claret, 2001.

4.    Piper, John. Fiel a Deus: A Fé que Busca a Justiça. São Paulo: Editora Fiel, 2011.

5.    Sproul, R. C. A Soberania de Deus. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010.

6.    https://voltemosaoevangelho.com/blog/2024/11/o-livre-arbitrio-existe/?

7.    https://personaret.blogspot.com/2011/07/biografia-quem-foi-jaco-arminio.html

8.    https://www.monergismo.com/textos/arminianismo/breve_historico_arminianismo_tokashiki.html

9.    https://teologiaarminiana.blogspot.com/2009/01/uma-breve-histria-sobre-armnio-e-o.html