Nosso salmo começa com um grito, mistura de incompreensão, dor,
impotência, lamentação. Você se dirige a Deus, seu Deus, sem rodeios, sem
apresentações. Não tem tempo para isso. O peito oprimido, a garganta seca, e
uma pergunta que não quer calar: “por que me abandonaste? ”. E ainda mais,
mesmo que o procure, seu Deus parece esconder-se, calar-se. Por que tudo isso?
Faz parte de um castigo merecido? Trata-se de uma provação da fé?
Afinal, o que Deus quer mostrar com tudo isso?
O que aflige o salmista não é a presença de uma punição, de uma
repreensão, mas a ausência injustificada do ser amado que é sentida como
abandono (“estás longe de mim”). E acrescentado a isso, um persistente silêncio
– desse Deus que se define como “palavra” – sentido como absoluto (“dia e
noite”). O seu Deus, seu criador, seu par, teima em não se manifestar. O grito
angustiante ecoa em silêncios intermináveis.
“Meu Deus! Eu clamo de dia, mas
não respondes; de noite, e não recebo alívio!
No
entanto, mesmo diante da dor e do sofrimento o que nos dá alento é declarar a
santidade de Deus que é digno de toda nossa adoração e relembrar os momentos em
que Ele nos deu livramento.
“Lembro-me da minha aflição e do meu delírio, da
minha amargura e do meu pesar. Lembro-me bem disso tudo, e a
minha alma desfalece dentro de mim. Todavia,
lembro-me também do que pode me dar esperança: Graças
ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias
são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é
a sua fidelidade! Digo a mim mesmo: A minha
porção é o Senhor; portanto, nele porei a minha esperança. ” (Lm 3.19-24)
O sofrimento e a
dor nos revelam quão impotentes somos e o quanto precisamos confiar e depender
do Senhor. Deus muitas vezes não nos dá a resposta que queremos, mas nos revela
o que realmente precisamos. Assim como Jó, precisamos aprender a ter
experiência com Deus e perceber que somos miseráveis pecadores que necessitam
de Graça e Misericórdia.
Extraído e adaptado