Os dois grandes mandamentos
que segundo Jesus resume a Lei e os Profetas referem-se a amar a Deus e amar o
próximo como a si mesmo (Mt 22.37-40). A prática da Lei, em especial o que
conhecemos como 10 mandamentos ou a Lei moral de Deus destaca em seu conteúdo o
relacionamento que o ser humano deve ter com seu Criador, bem como o reflexo
disto em seu relacionamento com as pessoas (Ex 20.2-17; Dt 5.6-21). Podemos
dividir os dez mandamentos em duas seções, em que os primeiros quatro
mandamentos falam do relacionamento do homem com Deus e os outros seis, do
relacionamento com seu próximo. Nos textos do Novo Testamento podemos ver como
Jesus e os discípulos viam a ligação entre estes mandamentos (Mt 5.21-24; Rm
13.8-10; Gl 5.13-14). Isto nos leva a pensar em como os valores deste mundo são
contrários aos valores do Reino de Deus.
Uma
das características da nossa sociedade é a busca pela satisfação pessoal. Uma
espécie de Hedonismo (teoria ou doutrina filosófico-moral que afirma que o
prazer é o bem supremo da vida humana, é o prazer por prazer). No entanto, o
excesso de satisfação trás consigo o comodismo como reação imediata e faz de
muitas pessoas satisfeitas consigo mesmas, sem necessidade de nada. Porém, a
realidade é outra, na sua satisfação encontra-se um vazio, que revela o quão
insatisfeito o ser humano encontra-se consigo mesmo. Nesse texto podemos
encontrar um homem satisfeito consigo mesmo, mas que no encontro com Jesus
descobriu sua insatisfação. O texto nos diz que este homem era de “posição”
indicando assim seus status diante da sociedade, um homem rico que tinha muitas
propriedades (Lc 18.23). Este homem era alguém de pouca idade, provavelmente
ele tinha entre 30 à 35 anos. O texto de Mateus diz que ele era Jovem (Mt
19.20), o termo do original grego é Neaniskos que deriva do
termo neanias, que na concepção judaica era alguém que tinha entre 25 aos
35 anos. Ao aproximar-se de Jesus este homem queria mostrar a todos que tinha
condições suficientes para ser discípulo de Cristo. Na época de Jesus, ser
escolhido por um mestre significava que você estava apto para conviver com ele.
Ao aproximar-se o jovem demonstra qual era a sua preocupação:
ser visto como bom e ter garantias da vida eterna (Lc 18.18).
Este
jovem homem, no auge de sua vida vivia satisfeito em três aspectos diferentes:
com sua bondade, com seu status perante os homens e com a sua riqueza. Para
todas elas, Jesus confronta o Jovem com a sua própria percepção de bondade, de
posição e o verdadeiro valor que as riquezas tem no Reino de Deus:
- 1ª Confronta a bondade, como ele via a si mesmo (v. 19): “bom só existe um”. A ideia
central é mostrar para aquele Jovem que não existe bondade plena nos homens e
que somente em Deus essa bondade pode ser vista. A pergunta sobre os
mandamentos revela que sempre haverá um mandamento em falta na vida dos que
tentam se salvar pelas obras. Isto ficou claro no amor que este demonstrou por
sua riqueza.
- 2ª
Confronta seu Status, sua posição na sociedade (v. 22): Cristo mostra que
não adianta ter riqueza, ser bem visto pelos homens se não tem a vida eterna.
Em outras palavras, ter o olhar do mundo sobre si, mas não ter o agrado dos
olhos de Deus. Ele queria ser perfeito, mas perfeição só há quando acertamos o
alvo. Quando Cristo fala de perfeição no versículo 22, não está se referindo a
ausência de erros, mas sobre alguém que tem um arco e flecha nas mãos e acerta
o alvo em sua frente. Pois o termo TELEIOS, traduzido por perfeito, significa
alguém que faz exatamente o que deve e/ou precisa ser feito. Este Jovem não
estava preparado para fazer o que precisava, por isso resolveu ir embora a
abandonar suas riquezas.
- 3ª
Confronta com suas riquezas/ posses materiais (v. 22): Cristo ensina aos
seus discípulos que maior é o tesouro que existirá na eternidade para aqueles
que acertam o alvo. Ele não seria um homem impecável se abandonasse o dinheiro,
mas seria um homem com um coração pertencente a um só Deus. Não mais o
dinheiro, mas aquele que é bom plenamente (Mt 6.24). Jesus nos ensina que a
satisfação plena não vem de nós mesmos e do que conquistamos, a plenitude da
vida se encontra em Deus, em cumprir com a sua Palavra e com seus mandamentos.
Este Jovem preferiu continuar com seu coração voltado para o seu ídolo do que
voltar-se para Deus.
Porque não temos condições de viver
satisfeitos com o que somos por natureza e com que temos por conquista?
a. Porque não há nada em nós que nos
torne bons aos olhos de Deus (Rm 3.10-12,23): há uma necessidade em cada ser humano de se achar
apto para entrar no Reino de Deus, contudo, a Bíblia nos mostra que, pecadores
que somos a única coisa que merecemos é o inferno. Sem Deus intervindo em
nossas vidas e abrindo nossos olhos jamais poderemos compreender a
grandiosidade do seu amor. A bondade que expressamos aos outros revela muitas
vezes o desejo de conseguir com que Deus nos veja com bons olhos e nos dê a
vida abundante que prometeu, porém Deus revela que a salvação é pela graça e
não pelas obras (Ef 2.8-9). Somente quando Deus muda nosso coração é que
estaremos aptos a herdar o seu Reino, é preciso nascer de novo para ter uma
nova vida e uma nova perspectiva do reino de Deus. O jovem que pergunta para
Jesus achava-se totalmente apto para herdar a vida eterna, cumprindo os
mandamentos ele crê que vai conseguir. Isso não é possível, pois vemos que
muitos cumpriam os mandamentos somente para manter a boa aparência, não havia
compromisso com o Reino. Ter uma vida religiosa não faz de você um salvo,
apenas mais um cego tentando achar o caminho sem ter certeza de para onde está
indo.
b. A vida eterna está além dos
méritos humanos, somente Deus é que pode concedê-la (v. 24.27): quando Jesus responde ao jovem
que falta uma coisa para ele fazer, sua alegria transforma-se em decepção, pois
sua ideia de salvação era diferente da ideia de Jesus. Ele achou que tendo na
terra, poder, honra e cumprindo a Lei poderia conseguir a salvação. A salvação
é um grande milagre vindo de Deus que excede toda possibilidade humana (v.25 –
traz a ideia de que a salvação é impossível se não confiar plenamente em Deus).
É necessário que haja uma transformação na mente e no coração. O homem rico confiava
na sua própria boa conduta, mas não confiava em Jesus para capacitá-lo a
renunciar sua riqueza terrena. Confiança e renúncia são as palavras-chave em
questão. Renúncia é o que faltou de bom naquele homem rico e infeliz, que
decidiu não renunciar o seu dinheiro para seguir a Jesus (Lc 9.23-24).
c. A verdadeira fé é vivida no amor
que temos para com Deus, mas ela se expressa no amor que demonstramos ao nosso
próximo (v. 28-30): quando Jesus chama os homens
para caminhar com ele, é exigida uma vida de renúncia. Isto significa andar no
caminho que Jesus andou, o caminho da cruz, da humildade e da submissão. Esta
prática tem que ser superior a lealdade que se tem para com a família, as
riquezas e a própria vida (Lc 14.26,27,33). Somente em Jesus a fé é expressa de
forma verdadeira e o amor de maneira sincera. Aqueles que compreendem o chamado
de Jesus e a salvação vinda de Deus, tem consciência de que receberão os
galardões do Reino de Deus na vida vindoura, mas também nesta vida. Contudo,
eles não fazem disto um fim, mas entendem que é resultado de uma vida com Deus.
O homem que quer a salvação por seus próprios esforços é limitado na sua
compreensão do amor, da bondade e da misericórdia de Deus. Chegará o momento
que lhe será impossível por sua própria atitude herdar o galardão, pois está
além de suas capacidades. O jovem não conseguiu dar tudo o que tinha, por isso
foi embora triste sem conseguir o que queria. Com sua atitude ele demonstrou
que sua obediência a Lei não passava de mera religiosidade, pois não conseguiu
abrir mão do que tinha de mais precioso aos seus olhos repartindo com o próximo
o que Deus lhe havia dado.
Conclusão
Desde que pecou o homem perdeu a
capacidade de obedecer a Deus, sua vida é voltada para si, na busca de
satisfazer suas necessidades/desejos. O dinheiro daquele jovem, que parecia um
aliado para herdar a vida eterna, serviu de empecilho e pedra de tropeço. Ele
não foi capaz de renunciar aquilo que mais amava por amor a Deus. A vida eterna
não pode ser alcançada ou merecida por boas obras. É impossível ser perfeito
obedecendo aos mandamentos para alcançar a vida eterna. As obras devem ser a
consequência e não a causa da salvação. O texto começa com uma pergunta sobre o
que devemos fazer para entrar no Reino de Deus e termina com uma resposta de
Jesus aos seus discípulos, que isto só é possível a Deus. Ser discípulo de
Jesus requer bem mais do que vir a igreja, ler a Bíblia e orar a Deus (todas
estas coisas são importantes), porém andar com Jesus exige renúncia de nossa
parte, principalmente daquilo que mais amamos. Aquele
rapaz serviu como o modelo de fracasso humano em se obter êxito próprio diante
de Deus. Seu coração mostrou onde se encontrava sua prioridade. A natureza caída
em nada nos ajuda. As boas intenções são infrutíferas. A justiça própria é como
trapo imundo. Por maior que seja a vontade, o empenho, a disposição de agradar
a Deus, decididamente, resta-nos a desgraça. Por que é apenas pela Sua graça, a
qual proporcionou a remissão dos pecados pelo sacrifício de Cristo na cruz do
Calvário é que é possível obter a salvação.
“As coisas que são impossíveis aos
homens, são possíveis a Deus.” (Lucas 10.27)
MARTINS, Gedeon. Nunca satisfeitos, mas plenamente perfeito. Disponivel em: http://exegesedonovotestamento.blogspot.com/2014/02/mensagem-em-mateus-1916-22-o-jovem-rico.html
TRINDADE, Josué. O jovem rico exegese. disponível em: http://pregadorcalcajeans.blogspot.com/2015/08/jovem-rico-exegese-marcos-1017-21.html
MARINHO, Ruy. Jovem Rico, condenado? Disponível em: https://bereianos.blogspot.com/2013/08/jovem-rico-condenado-comentario-marcos.html
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