quinta-feira, 10 de outubro de 2024

O Pecado de Maria, Mãe de Jesus: Uma Reflexão Teológica

A figura de Maria, mãe de Jesus, ocupa um lugar central na tradição cristã, especialmente dentro da Igreja Católica e das denominações ortodoxas. Com o tempo, ela foi objeto de inúmeras doutrinas e dogmas que exaltam sua santidade e pureza, como a Virgindade Perpétua e a Imaculada Conceição. No entanto, é importante questionar essas doutrinas à luz da teologia bíblica e da compreensão da natureza humana. Maria, assim como qualquer outro ser humano, não está isenta do pecado, como afirmam os princípios que sustentam essas crenças.

 A Questão da Virgindade Perpétua

A ideia de uma concepção virginal foi construída pela História e pela Teologia ao longo dos séculos seguintes - e há variações de compreensão disso, de acordo com a denominação religiosa praticada.

Analisando essa evolução, o que parece é que para os primeiros seguidores de Cristo, aqueles que conviveram com ele e possivelmente conheceram sua mãe, esta questão não se apresentava como relevante.

A doutrina da Virgindade Perpétua afirma que Maria permaneceu virgem antes, durante e após o nascimento de Jesus. No entanto, a Bíblia apresenta diversas passagens que indicam o contrário. Em Mateus 1:25, diz-se que José não conheceu Maria "até que ela deu à luz um filho". O uso do termo "até" sugere que, após o nascimento, a relação conjugal foi normalizada. Além disso, os evangelhos mencionam que Maria e José tiveram outros filhos (Mateus 13:55-56). A ideia de uma virgindade perpetuada pode ser vista mais como uma construção teológica do que uma realidade bíblica.

O dogma da Virgindade Perpétua de Maria possui fundamento teológico baseado na Tradição da Igreja e não nas Escrituras Sagradas, que afirma claramente que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23), e que “Quando Adão pecou, o pecado entrou no mundo, e com ele a morte, que se estendeu a todos, porque todos pecaram.” (Rm 5.12). A Virgindade Perpétua de Maria foi proclamada no Concílio Regional de Latrão, em 649. O protoevangelho de Tiago, embora não seja escritura canônica, é um documento escrito no século II d.C., não muito depois do fim da vida terrena de Maria, este documento faz um grande esforço para defender a virgindade perpétua de Maria.

A Igreja Católica Romana vê Maria como “a Mãe de Deus” e “Rainha do Céu”. Os católicos creem que Maria tem um lugar exaltado no Céu, com o mais estreito acesso a Jesus e a Deus o Pai. Tal conceito não é ensinado, em lugar algum, nas Escrituras. Mas mesmo que Maria ocupasse esta posição tão exaltada, ter ou não ter tido relações sexuais não teria impedido que ganhasse tal posição. O sexo dentro do casamento não é pecado. Maria não teria, de forma alguma, se degradado por ter relações sexuais com José, seu marido. 

 A Imaculada Conceição

A crença de que Maria nasceu sem pecado original, ou seja, imaculada, também levanta questionamentos. A tradição católica baseia-se no dogma estabelecido em 1854 por Pio IX. Contudo, a Escritura Sagrada, especialmente em Romanos 3:23, afirma que "todos pecaram e carecem da glória de Deus". Esta visão universal do pecado é fundamental na narrativa cristã: todos, sem exceção, estão sujeitos à condição humana caída. Além disso, a própria Maria é retratada no Evangelho como uma pessoa que, em momentos de dúvida e questionamento, demonstrou uma necessidade de fé e confiança em Deus. Em Lucas 1:38, sua resposta ao anjo Gabriel, "sou serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra", reflete uma aceitação da vontade divina, mas não denota uma pureza isenta de dúvida ou pecado. Ao contrário, essa resposta pode ser interpretada como uma demonstração de sua humanidade. Para que Maria fosse preservada do pecado deveria haver uma conceição imaculada em cadeia em seus pais. Somente Jesus foi preservado, pois foi gerado pelo Espírito Santo no ventre de Maria sem a participação de homem algum. Já Maria foi gerada por pais naturais, numa concepção natural manchada pelo pecado. Também a santidade de Jesus não depende de sua relação com sua mãe. No evangelho de Lucas 1.46-47 está registrado o chamado Magnificat ou Cântico de Maria. Nestes versos ela exalta a Deus e o reconhece como seu Salvador, se Maria tivesse nascido sem pecado, qual seria a necessidade de um Salvador?

A expressão "A minha alma engrandece ao Senhor" é um ato de louvor e adoração, onde Maria exalta a grandeza do Senhor. Esse reconhecimento indica a humildade e a gratidão de Maria diante da grandeza de Deus e da obra que Ele está realizando por meio dela.

Quando Maria se refere a Deus como "meu Salvador", ela demonstra uma compreensão profunda da necessidade humana de salvação. Esse reconhecimento não é apenas pessoal, mas também teológico, pois implica que ela reconhece seu estado de pecado e a necessidade de intervenção divina na vida de todos. Maria não se vê como alguém que alcançou a salvação por suas próprias forças, mas como alguém que é beneficiada pela graça de Deus.

Além disso, ao chamar Deus de seu Salvador, Maria identifica-se com a condição do povo de Israel, que aguardava a vinda do Messias e a realização das promessas de libertação e redenção. Sua alegria reflete não só uma experiência pessoal, mas também a esperança coletiva de um povo que anseia pela salvação que Deus prometeu.

 A Natureza Humana e o Pecado

A teologia cristã tradicional sustenta que Jesus é plenamente divino e plenamente humano. Se Maria fosse isenta do pecado, isso poderia levar à implicação de que ela possuía uma natureza superior à humana comum. Contudo, o cristianismo afirma que todos os seres humanos são falhos e necessitados da graça de Deus para a salvação (Efésios 2:8-9). Ao considerar Maria apenas como uma serva de Deus e não como uma figura sem pecado, reafirma-se a doutrina da redenção, que é o coração do evangelho. Maria é apresentada não como uma deidade, mas como uma escolhida por Deus para uma missão específica. Sua aceitação do papel de mãe de Jesus está repleta de humildade e coragem. Isso pode inspirar os cristãos a reconhecerem sua própria condição de pecadores e a necessidade de um Salvador.

 Conclusão

A exaltação de Maria como imaculada e perpetuamente virgem não encontra respaldo suficiente nas Escrituras e pode desviar a atenção do papel central de Jesus Cristo na salvação, pois os que assim creem neste dogma passam a atribuir a Maria o papel de mediadora e intercessora acima de Jesus, o que contraria o que as Escrituras Sagradas ensinam (Jo 14.6; Atos 4.12; 1Tm 2.5-6). Ao reconhecer Maria como uma mulher comum, que também experimentou a fragilidade e os desafios da natureza humana, pode-se celebrar sua grandeza em ter aceitado ser a mãe do Salvador, sem atribuir a ela uma natureza superior àquela de qualquer outro ser humano, e sem desmerecer o privilégio que lhe fora concedido por Deus de ser o instrumento pelo qual o Salvador veio ao mundo (Gn 3.15; Gl 4.4).

Assim, a reflexão sobre o pecado de Maria não diminui seu papel na história da salvação, mas o coloca em um contexto que revela a beleza da graça divina: que mesmo os mais simples e imperfeitos são instrumentos poderosos nas mãos de Deus.

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Uma mensagem de esperança em meio a aflição: uma breve reflexão sobre a grandeza de Deus e sua bondade para com seu povo - Isaías 40

No geral, Isaías 40 é um capítulo que enfatiza a esperança e o conforto da promessa de salvação de Deus. Serve como um lembrete de que o poder e a fidelidade de Deus são maiores do que qualquer sofrimento ou dificuldade humana. O capítulo retrata Deus como um pai amoroso e compassivo que conforta seu povo em sua angústia e traz sua libertação. Em última análise, Isaías 40 nos aponta para a necessidade de confiança e fé em Deus, e a certeza de que suas promessas serão cumpridas em seu tempo e à sua maneira.

O Cap. 40 de Isaías começa com a seguinte declaração: “Consolai, consolai o meu povo...” Essas palavras ecoam um chamado de um Pai que se preocupa com seus filhos que estão passando por angústia e aflição. É como um abraço caloroso em meio as tormentas da vida. Deus não apenas observa as aflições do seu povo, mas se inclina em direção a eles com palavras de alívio e encorajamento. Ele promete consolo em meios as adversidades da vida. A fonte desse consolo é o próprio Deus (v.2).

Deus fala aqueles que estão desanimados, amedrontados e desapontados com as aflições que estão passando. Pessoas que lutam contra uma maré de dificuldades. Muitos que até mesmo deixaram de acreditar (embora ainda não tenham perdido completamente a fé). Deus lhes apresenta argumentos para provar que Ele é Deus e está sempre cuidando dos seus. Após falar sobre a fragilidade humana, o Senhor fala com seu povo trazendo esperança e renovação (v. 6-11).

  • As obras de Deus (v. 12): Deus é poderoso para fazer coisas maravilhosas que estão além da nossa compreensão, Ele é o Criador, este é o seu Deus;
  • A sabedoria de Deus (v.13-14): Deus é aquele que detém todo conhecimento e não há nada que alguém lhe possa ensinar. Sua sabedoria é infinita e superior a todo conhecimento humano, este é o seu Deus;
  • A soberania de Deus (v.15-17,22-24): todos os governos estão sujeitos a autoridade e soberania de Deus (Rm 13.1). Não precisamos temer os governos pois todos eles são instituídos pelo Senhor para a realização de seu propósito. Os governantes cujas leis e políticas determinam o bem-estar de milhões. Pensa que eles são alguma coisa para Deus, pensa que são eles que determinam como as coisas são? Deus é maior que todos os líderes e personalidades do mundo. Deus é tão maior que todas as nações que elas não são nada para Ele, este é o seu Deus;
  • A singularidade de Deus (v.18-21): nossos pensamentos a respeito de Deus não são suficientemente grandes, deixamos de reconhecer a realidade de seu poder e sabedoria. Somos seres finitos e fracos que em nossas mentes corrompidas queremos comparar a sua glória as coisas criadas.
  • O universo criado (v.25-26): uma das experiências mais deslumbrantes é contemplar as estrelas, nada nos faz sentir que somos tão pequenos em nossa insignificância. Ao tentar compreender a imensidão do universo ficamos estarrecidos diante de tamanha grandeza. Mas, o que é isto para Deus? Aquele que dá nome as estrelas e põe em ordem as Vias Lácteas. Tão grande é o seu poder e sua força que nada se compara a Ele. Deus mostra as estrelas, foi Ele quem as colocou no espaço, Ele é o Criador e Senhor do universo, tudo está sujeito a sua vontade. Tamanho é o seu poder e majestade, este é o seu Deus;
  • Quem é Deus (v.27-31): Ele é o eterno, o Criador, o sustentador e fortalecedor de nossa vida, de que reclamamos? Somos lentos em crer (confiar) em Deus como Deus, aquele que é, e que sempre será Deus. Aquele em quem devemos colocar toda nossa esperança e meditar em sua majestade e grandeza, para que nossas forças sejam renovadas e suas Palavras fiquem gravadas em nosso coração.

 Este é o seu Deus.

Isaías 40 é uma fonte de esperança que transcende os séculos. Em tempos de desafios, incertezas e lutas pessoais e coletivas, em que muitas vezes nos sentimos cansados, desanimados e até mesmo perdidos em meio as agitações deste mundo e do nosso coração. Isaías nos leva a olhar além das circunstâncias. A mensagem do Deus eterno e sua Palavra imutável, suas promessas e seu amor nos convidam a reavivar nossa confiança em Deus e a encontrar esperança na sua Promessa: Há um caminho que está acima de todas as circunstâncias, que nos renova e nos sustenta em nossas fraquezas e no oferece um caminho de esperança e renovação, e este Caminho é Jesus.

Quando se sentir fraco, desanimado, abatido e com a fé vacilante, lembre-se daquele que suportou a cruz em seu lugar e recebeu sobre si toda a ira que lhe estava destinada, para que você pela fé tenha a plena certeza da vitória que Ele conquistou através de sua morte e ressurreição.


segunda-feira, 6 de maio de 2024

Busque ao Senhor enquanto se pode achar - Isaías 55.6

 

Rio Grande do Sul

Show da Madona

Diante da maior tragédia que está acontecendo no Rio Grande do Sul, ainda existem aqueles que fazem pouco caso e fingem que nada está acontecendo. É lamentável que, enquanto vidas estão sofrendo e pessoas estão morrendo, outros ainda participem de um show depravado e que faz pouco caso da fé de muitos. Tudo isso, apenas pelo dinheiro, fama, status e a pura imoralidade escancarada.

Mas, mas como já dizia o escritor de Eclesiastes: A história simplesmente se repete. O que foi feito antes será feito outra vez. Nada debaixo do sol é realmente novo. De vez em quando, alguém diz: "Isto é novidade!". O fato, porém, é que nada é realmente novo.” (Ec 1.9-10). Desde a queda no Éden, o ser humano carrega dentro de si, a semente do orgulho e da vaidade.

Por deixar de ouvir a voz do Criador e dar ouvidos a voz do tentador, o ser humano escolhe seu caminho de acordo com seus desejos e vontades corrompidos, e que o fim será a morte.

Há caminhos que a pessoa considera corretos, mas que acabam levando à estrada da morte.” (Pv 14.12)

Não haverá desculpas quando tiverem de prestar contas de suas vidas ao Criador, e o destino deles é certo, o tormento eterno. Podem até desfrutar de seus prazeres momentâneos aqui na terra, mas na eternidade irão sofrer para sempre.

Assim, Deus mostra do céu sua ira contra todos que são pecadores e perversos, que por sua maldade impedem que a verdade seja conhecida. Sabem a verdade a respeito de Deus, pois ele a tornou evidente. Por meio de tudo que ele fez desde a criação do mundo, podem perceber claramente seus atributos invisíveis: seu poder eterno e sua natureza divina. Portanto, não têm desculpa alguma. Sim, eles conheciam algo sobre Deus, mas não o adoraram nem lhe agradeceram. Em vez disso, começaram a inventar ideias tolas e, com isso, sua mente ficou obscurecida e confusa. Dizendo-se sábios, tornaram-se tolos. Trocaram a grandeza do Deus imortal por imagens de seres humanos mortais, bem como de aves, animais e répteis. Por isso, Deus os entregou aos desejos pecaminosos de seu coração. Como resultado, praticaram entre si coisas desprezíveis e degradantes com o próprio corpo. Trocaram a verdade sobre Deus pela mentira. Desse modo, adoraram e serviram coisas que Deus criou, em lugar do Criador, que é digno de louvor eterno! Amém. Por isso, Deus os entregou a desejos vergonhosos. Até as mulheres trocaram sua forma natural de ter relações sexuais por práticas não naturais. E os homens, em vez de ter relações sexuais normais com mulheres, arderam de desejo uns pelos outros. Homens praticaram atos indecentes com outros homens e, em decorrência desse pecado, sofreram em si mesmos o castigo que mereciam. Uma vez que consideraram que conhecer a Deus era algo inútil, o próprio Deus os entregou a um inútil modo de pensar, deixando que fizessem coisas que jamais deveriam ser feitas. A vida deles se encheu de toda espécie de perversidade, pecado, ganância, ódio, inveja, homicídio, discórdia, engano, malícia e fofocas.  Espalham calúnias, odeiam a Deus, são insolentes, orgulhosos e arrogantes. Inventam novas maneiras de pecar e desobedecem a seus pais. Não têm entendimento, quebram suas promessas, não mostram afeição nem misericórdia.  Sabem que, de acordo com a justiça de Deus, quem pratica essas coisas merece morrer, mas ainda assim continuam a praticá-las. E, o que é pior, incentivam outros a também fazê-lo. (Rm 1.18-32)

O juízo de Deus sobre a vidas dos que seguem este caminho é certo: “Mas, por causa de seu coração rebelde, você se recusa a abandonar o pecado, acumulando ira sobre si mesmo. Pois o dia da ira se aproxima, quando o justo juízo de Deus se revelará. Ele julgará cada um de acordo com seus atos.  Dará vida eterna àqueles que, persistindo em fazer o bem, buscam glória, honra e imortalidade.  Mas derramará ira e indignação sobre os que vivem para si mesmos, que se recusam a obedecer à verdade e preferem entregar-se a uma vida de perversidade.” (Rm 2.5-8).

A indignação diante de tamanho contraste reflete um coração que clama por justiça. Como o profeta Habacuque, há muitos que gritam:

Até quando, Senhor, terei de pedir socorro?  Tu, porém, não ouves.  Clamo: "Há violência por toda parte!", mas tu não vens salvar. Terei de ver estas maldades para sempre? Por que preciso assistir a tanta opressão? Para qualquer lugar que olho, vejo destruição e violência. Estou cercado de pessoas que discutem e brigam o tempo todo. A lei está amortecida, e não se faz justiça nos tribunais. Os perversos são mais numerosos que os justos e, com isso, a justiça é corrompida. (Hc 1.2-4).

A resposta de Deus diante desse clamor, é que Esta é uma visão do futuro; descreve o fim, e tudo se cumprirá. Se parecer que demora a vir, espere com paciência, pois certamente acontecerá; não se atrasará. "Olhe para os arrogantes, os perversos que em si mesmos confiam; o justo, porém, viverá por sua fidelidade a Deus. (Hc 2.3-4)

A Bíblia é muito clara em dizer: "Porque Deus amou tanto o mundo que deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3.16)

Toda dor e sofrimento que carregamos nesta vida não se compara ao sofrimento que Jesus teve de carregar na cruz, suportando toda a ira de Deus contra o pecado. Para os que reconhecem e aceitam este sacrifício como único meio de salvação, terão a eternidade na Presença de Deus, mas para os que o rejeitam e preferem continuar vivendo suas vidas alienados de Deus, a estes virá o juízo e irão ouvir da boca do próprio Senhor: “‘Fora daqui malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos.” (Mt 25.41)

Então, mesmo diante de tanta tragédia, corrupção, sofrimento que ainda passaremos nesta vida, nada se compara com a Glória reservada para aqueles que entregaram suas vidas a Cristo. Para estes, Deus traz a palavra de esperança: “Ouvi uma forte voz que vinha do trono e dizia: "Vejam, o tabernáculo de Deus está no meio de seu povo! Deus habitará com eles, e eles serão seu povo. O próprio Deus estará com eles. Ele lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor. Todas essas coisas passaram para sempre".  E aquele que estava sentado no trono disse: "Vejam, faço novas todas as coisas!". Em seguida, disse: "Escreva isto, pois o que lhe digo é digno de confiança e verdadeiro". (Ap 21.3-5)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

As Escrituras e as promessas

 

Na Pessoa e na Obra realizada por Jesus Cristo, Deus estabeleceu provisão para a salvação plena e suficiente do Seu povo. E para que seu povo tivesse conhecimento desta provisão, Ele a apresentou nas grandes e preciosas promessa que se acham em toda a Bíblia. É por meio dessas promessas que tomamos conhecimento da vontade de Deus em Cristo Jesus. Assim, podemos desfrutar da comunhão autêntica com Deus independente das condições e circunstâncias que estejamos passando. As promessas divinas são declarações de que Deus nos dará algum bem ou irá retirar algum mal, como demonstração do seu amor divino por nós.

Deus tem o propósito íntimo de exercer este amor e executá-lo segundo as promessas que fez de acordo com o Seu propósito, nos revelando os benefícios advindos dessas promessas sobre nossa vida. Deus nos revela seu amor mostrando-nos os benefícios para que descansemos nEle, confiando em sua Palavra. Quando Deus fala conosco a respeito de sua Pessoa, ele não poupa palavras para revelar o seu caráter. A mente humana pode perceber a grandeza desse Deus, mas somente um coração regenerado é que pode experimentar e sentir a grandeza de Deus e de suas promessas para o Seu povo.

As promessas foram colocadas inteiramente à disposição daqueles que estão em Cristo. Somente através de Cristo é que se pode viver as promessas de um Deus Grande e Santo. O pecador impenitente não pode receber e ter essas promessas sobre sua vida, pois elas estão reservadas somente para os que reconhecem e aceitam a oferta de amor que Deus fez através de seu Filho. As promessas e as benção nos são dadas por meio de Cristo, pois é nele que as famílias da terra são abençoadas. Quem não está em Cristo não desfruta do favor de Deus, na verdade, está debaixo de condenação e da justa indignação do Senhor. Sobre este pesa a ira divina e não suas promessas. Somente os filhos de Deus é que são filhos da promessa. A verdade precisa ser aceita e recebida, caso contrário, você não irá fazer parte das promessas que Deus tem para o Seu povo.

Infelizmente, são muitos que apesar de serem parte do povo de Deus não desfrutam das promessas. Estes ainda não se apropriaram das promessas, pois têm negligenciado a Deus e sua Palavra. Devemos ser diligentes em nossa busca pela Palavra e sua aplicação em nossas vidas, familiarizando-nos com as coisas que o Espírito tem revelado para nós na Palavra de Deus. Precisamos examinar as Escrituras para não somente tomar conhecimento do que nos foi dado, mas para meditar e pedir ao Senhor que nos dê entendimento na compreensão de sua vontade revelada na Bíblia. O crente não obtém qualquer consolo nem qualquer força espiritual das promessas de Deus, se sua fé não se apropria delas, e elas não penetram em seu coração. Jesus mesmo disse: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna." (Jo 6.27). Isso significa que é necessário esforço e disciplina em conhecer a Palavra e viver as promessas de Deus. Quando a Palavra está sendo enraizada no coração, o Espírito Santo traz a nossa memória, as promessas de Deus, quando elas nos são necessárias (Jo 14.26).

Muitos tem ainda uma mentalidade terrena, e para estes as promessas de Deus parecem mais um produto da imaginação piedosa de uma realidade não palpável. Creem em Deus e acreditam nas coisas espirituais, mas andam totalmente esquecidos de que a verdadeira piedade tem a promessa da vida que agora é e da que há de vir. Por não viverem a Palavra nas pequenas adversidades da vida, não conseguem vive-las, quando passam por tempestades e tribulações. Saiba que se você está andando em retidão e na dependência do Senhor, Ele não lhe sonegará o que você precisa, pois segundo a Sua riqueza em glória, Ele supre todas as nossas necessidades em Cristo Jesus. Independente da situação que esteja passando, aproprie-se das promessas de Deus, não permita que o diabo lhe roube com suas mentiras a porção da Palavra do Pai.

Apesar do fato de que as promessas de Deus se derivam de sua pura graça, não devemos nunca nos esquecer que a graça reina pela justiça. Se ignorarmos os preceitos de Deus e andarmos em rebeldia, não deve nos surpreender que as promessas não estejam se cumprindo em nossa vida. Se ignorarmos as leis naturais estipuladas pelo Senhor, teremos de arcar com as consequências advindas dessa negligência. Se formos displicentes e ignorarmos os preceitos divinos, teremos de arcar com a responsabilidade de nossa própria culpa de não recebermos o cumprimento de muitas promessas do Senhor. Não suponha você que por causa das promessas, Deus é obrigado a ignorar as exigências de sua santidade, Deus não vai contra o seu próprio caráter perfeito e justo. É muito fácil para nós nos apegarmos apenas as promessas e esquecermos o vínculo que elas têm com a aliança estabelecida por Deus para o Seu povo. Se você não está vivendo em comunhão com Deus e obedecendo seus mandamentos, não pense que irá ser abençoado com isso.

Deus nos deu suas promessas para nos mostrar o seu amor e cuidado por nós e consolar nosso coração desenvolvendo nossa fé. Deus nos chama a olhar sempre para o alto, isto é, para as realidades espirituais e eternas. A fé olha para a Palavra que fez a promessa e aguarda com esperança a concretização da promessa. As promessas de Deus devem ser um lugar de descanso para o nosso coração. Por isso, o exercício da paciência é fundamental no exercício da fé, que é a demonstração da confiança em Deus e sua Palavra, ainda que nos pareça tardia em se cumprir. Entre a semeadura e a colheita há um processo sendo trabalhado por Deus em nossa vida que nos leva a esperar e descansar nEle. Lembremos que para os que tem a eternidade à sua disposição não precisa ter pressa. Deus nos faz esperar para que a paciência seja aperfeiçoada, e para que tenhamos a confiança de que seus propósitos não falham e nada pode frustrar seus planos. Várias finalidades são alcançadas por Deus quando Ele nos faz aguardar e esperar o cumprimento de suas promessas. Não somente a nossa fé é submetida a teste para que transpareça com mais clareza e seja genuína, mas também para  desenvolver em nós a constância e a esperança, bem como a submissão a Sua vontade.

As promessas de Deus formam não apenas a base de nossa fé, mas também de nossas súplicas a Deus. Nossas petições devem ser feitas de acordo com a vontade de Deus, e sua vontade está nas promessas que Ele revelou para nós em sua Palavra. E também quando vivemos na expectativa dessas promessas buscamos ter uma vida que esteja de acordo com seus mandamentos e que reflita seu caráter. Este é o efeito que as promessas devem produzir em nós. Quando o Evangelho e suas preciosas promessas que nos são dadas graciosamente e aplicadas com poder, elas exercem influência profunda em nossa vida, nos levando a negar a impiedade e os desejos mundanos para vivermos de forma sóbria, justa e piedosa.  


Fonte: Enriquecendo-se com a Bíblia

Autor: A. W. Pink

Editora Fiel

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

As Escrituras e o mundo

A verdadeira natureza do mundo é definida com clareza pela Bíblia e somos advertidos solenemente sobre os perigos que ele nos apresenta. A Bíblia é a luz em meio as trevas que ilumina nosso entendimento na compreensão do mundo em que vivemos, expondo-o em toda a sua essência. O mundo está claramente em inimizade contra Deus. Por essa razão, os filhos de Deus são proibidos de deixarem se conformar ou fixar nele os seus afetos.

A Bíblia nos exorta a buscarmos a Palavra de Deus com todo nosso ser, pois é por meio dela que nos é dado o crescimento para a salvação (1Pe 2.2). Devemos constantemente examinarmos a nós mesmos a Luz da revelação divina. Não para aumentar nosso conhecimento intelectual sobre a Bíblia, mas buscar o desenvolvimento prático que nos leve a conformar-se com a imagem de Cristo. E uma das questões que nos leva a isso é: meu estudo da Bíblia tem me tornado mais parecido com Cristo e menos com o mundo?

A Palavra de Deus abre nossos olhos para discernir o verdadeiro caráter do mundo. A Bíblia diz que o mundo jaz no maligno (1Jo 5.19). Somente o coração iluminado pelo Espírito Santo é que se torna capaz de perceber que o que é elevado aos olhos do mundo é na realidade abominação diante de Deus. No entanto, ao falarmos sobre o mundo, estamos falando de um sistema que vai contra Deus e seus valores estabelecidos. Quem quiser ser do mundo precisa adaptar-se a esse sistema, acomodando-se a ele. O mundo consiste da natureza decaída que se manifesta moldando a estrutura da sociedade em conformidade com as suas próprias tendências. É voltado apenas para as coisas terrenas e não celestiais (1Jo 2.16). Portanto, o mundanismo é o mundo sem Deus.

O mundo é um inimigo que precisamos vencer. Da mesma forma que existe a Trindade Santa, existe a Trindade satânica que é composta pela carne com suas fraquezas, o mundo com suas influências e o diabo com suas artimanhas, que usa das influências do mundo para alimentar ainda mais a fraqueza de nossa carne. O filho de Deus é chamado a travar uma batalha mortal contra essa trindade maléfica. O mundo é um inimigo mortífero, e se não o vencermos em nosso coração, isso revela que não somos filhos de Deus, pois está escrito: “Todo o que nascido de Deus vence o mundo.” (1Jo 5.4). Tudo que há no mundo tende a desviar nossa atenção, afastando de Deus os afetos de nossa alma. As coisas visíveis desviam nossa atenção daquilo que é invisível, colocam nossos olhos naquilo que é temporal e logo irá perecer. Por essa razão é que o mundo não conheceu quando Cristo, o Salvador veio ao mundo, pois ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. As preocupações que o mundo no traz, leva-nos a dirigir nossas afeições para as coisas desta terra, gerando ainda mais ansiedade em nosso coração. Devemos vigiar constantemente para não sermos levados pelas prioridades que não sejam do Reino de Deus (Mt 6.33).

O meio pelo qual vencemos o mundo é a nossa fé (1Jo 5.4). Á medida que nosso coração se ocupa com as realidades invisíveis e eternas, somos libertos da influência corruptora dos objetos mundanos. Os olhos da fé são capazes de discernir as verdadeiras cores das coisas terrenas, e percebe que elas são vazias e indignas em comparação com os objetos da eternidade (2Co 4.18-19). A glória de Deus não se compara com o que o mundo quer nos apresentar. Quem tem seus olhos iluminados por Deus, tem em seu coração o desejo da Presença de Deus. Quando se tira do homem mundano aquilo em que ele se deleita, ele sente-se miserável. Contudo, nada pode tirar o brilho da glória de Deus na vida daquele que se submete a Deus e vive em obediência a sua Palavra e desejoso de fazer a Sua vontade. A alegria de quem pertence a Deus jamais lhe será tirada e nem a sua satisfação. Analise seu coração e veja se você está desejando mais as coisas desta terra ou as coisas do céu. Se sua alegria é eterna ou apenas passageira.

Há muito mais proveito para aquele que sabe que Cristo morreu para livrá-lo deste mundo perverso. Jesus veio para cumprir a Lei, destruir as obras do diabo e livra-nos da ira vindoura, salvando-nos de nossos pecados e nos libertando da escravidão deste mundo. Assim como Deus libertou a Israel da escravidão no Egito, em Cristo, ele nos libertou da escravidão do pecado interrompendo o poder que o mundo tem de nos atrair. Cristo se deu como sacrifício pelos pecados de seu povo, para que, em consequência disso, eles sejam libertos do poder condenatório e das influências dominadoras de todos os males que existem neste mundo (Rm 8.1). O Espírito Santo, por habitar a vida dos que creram em Jesus coopera nesta obra bendita desviando nossos pensamentos para longe das coisas terrenas e nos fazendo fixar nossos olhos nas realidades espirituais. Deste modo, os crentes deixam de ter prazer nas coisas terrenas buscando libertar-se deste mundo perverso.

A advertência bíblica diz que não devemos amar o mundo e nem as coisas que há um mundo, pois o mundo passa, assim como os desejos da carne, mas o que faz a vontade de Deus permanece para sempre. O coração precisa ser purificado das corrupções deste mundo, caso contrário, os ouvidos ainda continuaram surdos para a Palavra de Deus. Enquanto tivermos nossa mente nesta terra, não iremos ter prazer em obedecer a Deus. O mundo rejeitou a Cristo, e mesmo que muitos digam professar o seu Nome, no fundo não querem nada com Ele. A busca dessas pessoas é apenas para a satisfação do seu ego, e “usam” Deus apenas como um meio para conseguir o que querem. Como filhos de Deus temos de vigiar nosso coração, pois ainda vivemos neste mundo caído e corrompido, embora nosso espírito deseje o céu. Somos proibidos, de amar o mundo, pois a nossa porção é eterna. O mundo se mostra atraente com tudo o que tem para oferecer, coisas que atraem nossa atenção e cria um desejo e amor por essas coisas, exercendo assim, uma influência fatal sobre nossas vidas. As coisas deste mundo, no entanto, só promovem a felicidade nesta vida e são feitas para isso. Mas, somos ensinados de que devemos afastar nossos olhos e pensamentos para longe do mundo. Quem assim o faz, entende que é melhor perder nesta terra para ganhar o céu, é melhor estar com Cristo na eternidade do que com o diabo no inferno (Mc 8.36-37).

Quem quer ser amigo do mundo se torna inimigo de Deus. Não podemos ter prazer nas coisas que Deus condena e num mundo que rejeita nosso Salvador. Se tiver prazer nisso, então, meu coração não pertence ao Senhor. Como está escrito: ‘Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele.” (1Jo 2.15). O que nos separa dos incrédulos é a nossa fé e o coração regenerado por Deus. Não tem como ter comunhão com este mundo, pois não há harmonia entre a luz e as trevas. O conhecimento e amor pela Palavra desperta em nós o ódio contra o mundo e tudo que é contra a vontade de Deus. Muitos são os que, presos em sua religiosidade, pensam estar agradando a Deus, porém, são hipócritas, pois seus corações estão longe do Senhor. As pessoas mundanas são escravas de seus hábitos e estilos de vida pecaminosos. Mas aquele que amam a Deus, a sua principal preocupação é conformar-se a Imagem de Jesus. Estes têm suas mentes voltadas para o alto, pensam nas coisas do alto (Cl 3.1-3).

Precisamos constantemente examinar nosso coração, guardar nossos pensamentos e verificar nossas prioridades. Precisamos ver o que nos dá mais prazer, o que nos deixa realmente motivados ou preocupados. Pois essas coisas irão revelar se estamos em Deus ou se ainda continuamos no mundo.

Fonte: Enriquecendo-se com a Bíblia

Autor: A. W. Pink

Editora Fiel

 

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

As Escrituras e a obediência

 

Todos os que trazem o nome de Cristo têm o dever de honrá-Lo e glorificá-Lo (1Co 10.31). Porém, muitos não sabem o que fazer e nem como devem fazê-lo. Muitos pensam que, só por serem membros de uma igreja, fazerem sua leitura da Bíblia (quando fazem), ter um tempo de oração (quando tem), praticar as boas obras, dar o dízimo, ofertar para Missões entre outras coisas, estão com isso honrando a Cristo. Verdade é, que até mesmo incrédulos podem fazer todas essas coisas e nem por isso Cristo está sendo glorificado. A religiosidade não significa intimidade com Deus, apenas que você está fazendo nada mais que sua obrigação, se verdadeiramente é um discípulo de Jesus. Cristo é honrado e glorificado quando vivemos em santidade em sujeição a Sua vontade. Esta foi a Palavra que Deus por meio de Samuel dirigiu a Saul quando este, por sua religiosidade e vaidade, dizia estar fazendo o seu melhor para Deus: “O obedecer é melhor do que sacrificar, e o atender melhor que a gordura de carneiros.” (1Sm 15.22). Foi essa a oração de Davi, quando confrontado com o seu pecado, em arrependimento orou: “Tu não desejas sacrifícios, do contrário eu os ofereceria; também não queres holocaustos. O sacrifício que desejas é um espírito quebrantado; não rejeitarás um coração humilde e arrependido.” (Salmos 51:16,17).

Não somos verdadeiramente discípulos de Jesus se não nos rendermos totalmente a Ele, e não o recebermos como Senhor de nossa vida, e não apenas como Salvador. Muitos são que enganados pelas mentiras do diabo e levados pelo seu próprio orgulho, pensam ter a salvação de sua alma, mas continuam vivendo como se Cristo fosse apenas mais um na vida deles, o ego continua a governar suas vidas. Veja o que o apóstolo João diz em sua carta: “Se alguém diz: "Eu o conheço", mas não obedece a seus mandamentos, é mentiroso e a verdade não está nele. Mas quem obedece à palavra de Deus mostra que o amor que vem dele está se aperfeiçoando em sua vida. Desse modo, sabemos que estamos nele. Quem afirma que permanece nele deve viver como ele viveu.” (1 João 2:4-6).

Há uma séria advertência nessa palavra de Cristo: “Porque vocês me chamam ‘Senhor! Senhor!’, se não fazem o que eu digo? Eu lhes mostrarei como é aquele que vem a mim, ouve as minhas palavras e as pratica.” (Lucas 6:46,47). A obediência tem a ver com praticar a Palavra e não apenas conhecê-la intelectualmente.” Isso é o que Cristo exige. Isso é o que a Palavra nos exorta: “Não se limitem, porém, a ouvir a palavra; ponham-na em prática. Do contrário, só enganarão a si mesmos.” (Tiago 1:22). Certa vez ouvi algo que ficou gravado em meu coração: “Os praticantes da Palavra são os melhores ouvintes.” Infelizmente, existem muitos ouvintes da Palavra nos dias de hoje, mas poucos que são praticantes. Supõem que, por terem conceitos claros sobre a salvação somente pela graça, estão salvos. Confundem a Graça de Deus, a qual teve um alto preço a ser pago, com a ideia de gratuidade comercial que temos no dia a dia. A salvação é pela Graça, mas não foi de graça. Muitos são os que tem conhecimento bíblico a ponto de dar inveja nos outros. Pensam que o simples ouvir a mensagem pregada a cada domingo estarão alimentadas por toda semana. Como eu sempre digo, marmitex de domingo também azeda. Você precisa saber preparar o seu alimento. Nos alimentamos da Palavra quando nos apropriamos dela pessoalmente, quando ouvimos, lemos e assimilamos à nossa vida. A Palavra que não é vivida, é apena informação obtida e acrescenta mais condenação a nossa alma.

Hoje temos muitos recursos para conhecer a Palavra: pregações, seminários, vídeos, palestras, estudos bíblicos, porém, muitos jamais chegam a um conhecimento vital e prático da verdade, de tal modo que em sua alma fique gravado o poder e a eficácia da verdade. “...estão sempre em busca de novos ensinos, mas jamais conseguem entender a verdade.” (2 Timóteo 3:7). A verdadeira fé dos filhos de Deus consiste no pleno conhecimento da verdade segundo a piedade. Deus nos deu sua Palavra não apenas para nos guiar, mas para que tenhamos o conhecimento claro e definido do que devemos fazer.

Somos beneficiados da Palavra quando nela descobrimos as exigências de Deus e quando reconhecemos o quanto temos deixado de satisfazê-las. Quando verdadeiramente percebemos quais são as exigências que Deus nos faz e chegamos a admitir que temos deixado completa e constantemente de cumpri-las, podemos ver o quão longe estamos Dele. Deus em sua infinita graça já providenciou todos os meios para que o seu povo cumpra suas exigências. É verdade que Cristo cumpriu a Lei e satisfez a justiça que era exigida pelo Pai, mas ele também nos assegurou que satisfaríamos essas exigências, e para isso enviou o Espírito Santo para nos auxiliar, o Espírito opera em nós o que Cristo já cumpriu por nós. Por meio do Espírito somos regenerados, nosso entendimento é iluminado, nosso coração é transformado e nossa vontade é renovada. Em Cristo somos novas criaturas, por isso, deixemos que o Espírito renove nossos pensamentos e atitudes e revistamo-nos de sua nova natureza, criada para ser verdadeiramente justa e santa como Deus (Efésios 4:23,24). É transmitida ao nosso coração uma disposição que corresponde às exigências da lei, um desejo sincero de cumpri-la. Em Cristo fomos justificados para viver a santidade. Não podemos separar a justificação da santificação.

Deus reconhece uma pessoa que o ama, se essa pessoa guarda a sua Palavra (Veja João 14.15; 1João 5.3). O amor a Deus é mais do que a expressão de meras emoções, é um princípio em ação, que se expressa em atitude de obediência e devoção. Ninguém pode dizer que ama a Deus, se não tem o sincero desejo de obedecer a sua Palavra. A obediência vai muito além do que meros comportamentos que mostram sua religiosidade. A obediência a Deus consiste em render-se a Ele e submeter-se a Sua vontade. Quem obedece por medo, o faz simplesmente para não receber o castigo. A obediência verdadeira é feita com alegria, é a reação espontânea de um coração agradecido pela consideração e o amor desmerecido de Deus pelo pecador (veja 1João 4.19). Bem-aventurado é aquele que tem o seu prazer na Lei do Senhor.  

A verdadeira prova de nosso amor a Deus é o quanto realmente damos valor a sua Palavra. Se alguém diz amar a Deus, mas não ama sua Palavra, engana-se a si mesma. Muitos são os que dizem amar a Deus, mas não tem um tempo sequer para ler e meditar na Bíblia. Quem ama a Palavra de Deus se submete a sua Vontade e seus mandamentos. A verdadeira obediência a Deus é imparcial. O coração renovado não seleciona e nem escolhe que mandamentos irá obedecer. Se você não deseja agradar a Deus em todas as coisas, então não deseja realmente agradá-lo em qualquer coisa. Jesus mesmo disse: “Vocês serão meus amigos se fizerem o que eu ordeno.” (João 15:14). Quem não é amigo, é com certeza inimigo. Quando o Espírito Santo opera a regeneração, Ele nos transmite uma natureza que se inclina à obediência em harmonia com a Palavra de Deus. O desejo do verdadeiro discípulo de Jesus é obedecer a Deus em todas as coisas e conformar-se inteiramente a imagem de Cristo. A graça da salvação transmite ao coração uma disposição habitual em direção Deus e sua Palavra. É por intermédio da obediência à Palavra que purificamos nossa própria alma e somos levados a “refletir a glória do Senhor, e o Senhor, que é o Espírito, nos transforma gradativamente à sua imagem gloriosa, deixando-nos cada vez mais parecidos com ele.” (2 Coríntios 3:18).

Fonte: Enriquecendo-se com a Bíblia

Autor: A. W. Pink

Editora Fiel


terça-feira, 30 de janeiro de 2024

A Palavra da Cruz – 1Coríntios 1.18-25

 

A Grécia é famosa por seus filósofos tais como Platão, Aristóteles, Sócrates entre outros. Os gregos valorizavam a busca pelo conhecimento e o discutir ideias a respeito da vida, da religião, do comportamento humano entre outros. Eles passavam longas horas a escutar os filósofos e conversar sobre a natureza, o universo e o significado da vida. Admiravam-se da eloquência de certos oradores, bem como a sua lógica e seu poder persuasivo. Mas, um dos problemas dos coríntios era a falta de compreensão da natureza da sabedoria. Eles valorizavam altamente a sabedoria humana, mas sabiam muito pouco acerca da sabedoria espiritual e do seu valor superior (Pv 1.7 – Provérbios 8 personifica a sabedoria mostrando sua superioridade e a liga diretamente com o conhecimento de Deus – v.12-14). O apóstolo Paulo, escritor da carta aos coríntios era muito inteligente, bem formado e poderoso nos debates — qualidades que seriam bem atraentes aos gregos. Mas Paulo estava firme na sua resolução de que Cristo, e não ele mesmo, deveria ser o alvo da lealdade e amor dos coríntios. Ele nos mostra que à luz do panorama de morte e destruição que acompanha os homens sábios e poderosos, percebemos como é vazia a sabedoria humana. Devemos escolher e valorizar o eterno e glorioso privilegio de conhecer a Deus, este é o verdadeiro conhecimento que conduz a vida eterna (Jr 9.23-24; Jo 17.3). Devemos nos gloriar apenas no Senhor, na revelação de Deus em Jesus Cristo, a verdadeira sabedoria revelada de Deus, a única Verdade em que se pode confiar (Jo 14.6). A sabedoria humana não passa de especulação fundamentada em visões particulares de corações corrompidos pelo pecado. O mundo de hoje, assim como nos dias de Paulo, está preso na admiração e adoração pela opinião humana, na sabedoria humana, e nos desejos e aspirações humanas. As pessoas são continuamente tentadas a descobrir por conta própria o que é a vida, de onde veio, para onde vai, o que significa, e que pode e deve ser feito. As ideias humanas mudam constantemente, aparecem e desaparecem e estão em constante conflitos contradizendo-se uns aos outros. A Palavra de Deus é a única sabedoria verdadeira e é toda a sabedoria que é confiável e necessária (Pv 30.5; 2Tm 3.16-17). Toda a verdade que Deus quer que nós tenhamos e que nós precisamos vem dela. Ela não precisa de adição de sabedoria humana, que sempre fica aquém da Sua Palavra e na maioria das vezes a contradiz ou distorce. Quando o homem tenta por conta própria determinar como é Deus, o que é a Sua vontade, e o que Ele pode e não pode fazer, a criatura apenas cria um deus imaginário, um ídolo a sua própria imagem e para sua própria satisfação egoísta. A verdadeira imagem de Deus só pode ser encontrada na pessoa de Cristo (Jo 1.1,14; Cl 1.15; Hb 1.3). Deus concedeu à humanidade uma sabedoria natural, mas limitada, que inclui a capacidade de raciocinar, aprender pela experiência e fazer escolhas racionais. No entanto, essa sabedoria deve ser complementada pela sabedoria divina, a revelação de Deus, para reconhecer a verdadeira natureza das coisas, seus valores e as consequências de determinados procedimentos. Deus nos criou para sermos seus filhos e dependentes dEle para orientar nossos pensamentos e ações. A sabedoria de Deus nos foi revelada em Cristo. Na crucificação, Deus mostrou na fraqueza, o seu poder. A sabedoria humana não pode entender a cruz. Para o homem a cruz é símbolo de derrota, mas para Deus é o símbolo da vitória – a vitória contra o pecado e a soberba do ser humano em querer ser como Deus (Gn 3.6). As pessoas são inclinadas a tentar resolver os seus problemas e lutar suas batalhas pela sua própria sabedoria e em seu próprio poder. Mesmo quando sabem que a sua própria filosofia ou a sua própria religião é instável, elas preferem continuar cavando sua própria cova, em vez de simplesmente crer em Deus e na Sua Palavra. A pregação da cruz tem por objetivo conduzir as pessoas a Jesus, pois o Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, pois nEle se descobre a justiça de Deus de fé em fé, pois o justo vive pela fé.   

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

A Escritura e as boas obras

Andamos por um caminho estreito que pode nos levar a erros em nossa interpretação e entendimento das doutrinas bíblicas. O Espírito Santo é que pode iluminar nossa mente na compreensão da verdade e encontrar um equilíbrio em nossa caminhada. Na guerra pela verdade, muitas vezes nos apegamos a combater a própria verdade de Deus. Quando deixados a depender de nossos próprios recursos, fica praticamente impossível manter a linha certa da verdade, e cada um passa a defender a sua própria interpretação da verdade. Há muitas doutrinas complexas que nos levam a isso, tais como a doutrina da soberania de Deus e a responsabilidade do homem, a doutrina da eleição e da proclamação universal do Evangelho, a justificação pela fé e a prática de boas obras. Se, por um lado, alguns têm errado por atribuir uma posição que a Bíblia não ensina, por outro lado, também é certo que outros têm deixado de atribuir às boas obras o devido lugar que a Bíblia lhe dá.

Em alguns segmentos do cristianismo a fé, ainda que não negada totalmente, é desprezada devido ao zelo pelas boas obras. Não há dúvida de que muitos assumem a postura, por não darem o devido valor a fé, com medo de cair no erro de confiar em suas próprias realizações como mérito de salvação. Contudo, devemos buscar o equilíbrio para não tirar o devido valor de um em detrimento do outro. Não podemos negar a verdade de que a salvação é pela graça, mediante a fé, e isso não vem de nós, para que ninguém se glorie. Porém, a prática das boas obras tem o seu devido lugar em nossa caminhada cristã, não como meio de salvação, mas demonstração de uma fé autêntica conforme nos ensina Tiago em sua carta: “Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta. (Tiago 2:17).

A Bíblia é muito enfática em dizer que a salvação é pela graça, mediante a fé no sangue de Cristo. Mas, também assegura que sem a santificação (o que envolve a prática de obras), ninguém verá a Deus. A Palavra nos educa para vivermos uma vida de fé e santidade na Presença de Deus. Não podemos desvincular a fé em Cristo dos frutos gerados por essa mesma fé na prática de boas obras. Fazer objeção a fé e a prática de boas obras como resultado de um coração regenerado que busca obedecer ao seu Senhor é perder a conexão entre a justificação e a santificação. A vida celestial será o término e a consumação da vida dos que foram regenerados e viveram neste mundo (veja o Salmo 15). Se alguém não odiou o pecado e não amou a santidade nesta vida, certamente não o fará na vida eterna. Muitos são os que querem ir para o céu, mas são poucos os que querem trilhar o caminho da santidade que o leva até lá. As boas obras não são mérito para a salvação, mas elas estão ligadas a ela (Ef 2.10). As boas obras não são a causa da salvação, mas está entre os meios que revelam o coração regenerado. A vida de obediência diária mostra nosso verdadeiro amor por Cristo (Jo 14.15).

Verdadeiro discípulos de Cristo confirmam sua profissão de fé pelo seu testemunho de vida (Mt 5.16). O desígnio das boas obras é glorificar a Deus. As boas obra não visam chamar atenção para nós, mas elas servem para glorificar a Deus. Elas possuem qualidade e caráter que revelam que nada de bom pode proceder de uma natureza caída. É um fruto sobrenatural que requer uma raiz sobrenatural. Deus é glorificado no seu povo quando estes vivem e praticam as obras para os quais foram criados. A verdadeira natureza das boas obras revela o amor de Deus no coração daquele que crê. Por amar a Deus, ele obedece, a obediência é fruto do amor e não da imposição de uma lei. Todos os homens podem praticar obras que são louváveis aos olhos da sociedade, mas somente os que foram regenerados é que podem praticar obras que glorificam a Deus. O coração não regenerado tem prazer em fazer coisas que sejam apenas para o seu inteiro agrado. No íntimo seus corações são orgulhosos e querem a recompensa (elogio), mas quem verdadeiramente tem um coração transformado, sacrifica-se a si mesmo seguindo o exemplo de Jesus (João 3.16 e 1João 3.16). Somente o Espírito é que nos capacita a viver dessa forma. Dessa maneira, somos libertos da autossuficiência e levados a perceber que todas as fontes de nossas ações procedem de Deus (Fp 2.13). Nada honra tanto a Cristo como o fato de que aqueles que receberam a salvação vivam constantemente a sua vida cristã, no Espírito de Cristo, que viveu sua vida para glorificar o Pai.

A prática das boas obras é um ato de adoração a Deus que o glorificam e exaltam pela sua Obra salvadora na vida daquele que creu. A nossa leitura da Palavra deve nos levar a refletir o caráter de Cristo em nossas vidas por meio das boas obras que praticamos. Como filhos de Deus devemos ser melhores cidadãos da Terra que vivem os valores do Reino de Deus.

Fonte: Enriquecendo-se com a Bíblia

Autor: A. W. Pink

Editora Fiel

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Temos o poder para perdoar pecados? - João 20.23

 

Ao abrir meu Facebook me deparei com este post e resolvi ler os comentários. Lendo cada um dos comentários, isso me levou a escrever este artigo. Fui católico até os 17 anos e estudei o catecismo da Igreja Católica, fiz o Crisma, a primeira confissão e a participação da “comunhão” (hóstia). Era assíduo na igreja e participava das missas de domingo, das procissões e dos grupos de orações nas casas, em que rezávamos o terço. Mas, aos 17 anos comecei a frequentar um trabalho evangelístico realizado pela Primeira Igreja Batista de São José dos Campos (PIB), atual Igreja da Cidade. Sempre tive interesse em conhecer e estudar a Bíblia, e ali, no início, por curiosidade comecei a frequentar os estudo bíblicos, e quando me dei conta, estava me batizando na igreja evangélica, onde estou até hoje. Comecei na Igreja Batista, e depois fui para a Igreja Cristã Evangélica, onde atualmente sou pastor.

Meu intuito é compartilhar a Palavra de Deus, o Evangelho de Cristo para levar as pessoas ao conhecimento da verdade, e deixar que o Espírito Santo faça a obra de convencer do pecado, da justiça e do juízo de Deus.

Com relação ao post, que questiona a questão do perdão concedido as pessoas. O argumento católico é que Jesus concedeu aos apóstolos, e consequentemente a igreja o poder para perdoar pecados. Em contraste com a crença protestante que diz que, somente Deus tem esse poder, e o que foi concedido, foi a autoridade mediante a pregação da Palavra que leva ao arrependimento e assim, a pessoa tem seus pecados perdoados pelo Senhor.

Antes de analisar o texto, quero dizer que, ao interpretar a Bíblia, existem regras que precisam ser seguidas as quais sãos estudadas nas matérias chamadas Hermenêutica e Exegese Bíblica. Não podemos simplesmente pegar um texto e interpretá-lo conforme o que achamos que deve ser ou a nosso bel prazer para confirmar aquilo que nós acreditamos como sendo a verdade. É muito perigoso tirar um texto de seu contexto. Temos como exemplo, os diversos vídeos que circulam pela internet, onde as pessoas postam apenas aquilo que lhes convém sem analisar todos os fatos envolvidos, e acabam propagando as chamadas “Fake News” ou em português claro, falsas notícias. Ao analisar um verso ou texto da Bíblia, é necessário entender o contexto em que ele foi escrito (o que vem antes e depois) e também analisá-lo dentro do contexto da revelação bíblica, ou seja, outras passagens que corroboram o texto, dando validade a sua interpretação.

Existem versículos que contêm verdades difíceis de ser entendidas. Há assuntos que exigem reverência de nossa parte ao considerá-los. Em tais passagens, é fácil obscurecer o significado com palavras que não revelam entendimento. Por isso, como um bom detetive, é prudente restringir nossa atenção aos fatos que são evidentes e instrutivos. Devemos rejeitar como insustentável a sugestão de que tais palavras não eram sem significado, pois, entendemos que se trata da Palavra de Deus (2Tm 3.16; 2Pe 1.20-21).

Não podemos negar que o verdadeiro significado de certas passagens tem sido motivo de controvérsia e discórdia. É inútil pensar que acabaremos com isso. O que almejamos é apresentar uma razoável explicação da passagem. Parece bastante razoável que Jesus, nesta ocasião, comissionou seus discípulos a irem por todo o mundo e proclamarem o Evangelho que Ele mesmo havia pregado, conferindo-lhes poder ao fazer tal declaração. Mas, lembre-se, é preciso analisar a passagem dentro do seu contexto. Este versículo tem sido mal interpretado pelos católicos romanos para significar que a Igreja Católica Romana teve a autoridade dos apóstolos de perdoar os pecados passados a eles. Mas a Escritura ensina que só Deus pode perdoar pecados (Dn 9.9). O Novo Testamento não faz nenhuma menção dos apóstolos (ou outra pessoa) absolvendo o povo de seus pecados. Além disso, essa promessa não foi feita para os apóstolos sozinhos, uma vez que os outros também estavam presentes (Lucas 24:33). O que Cristo estava realmente dizendo é que qualquer cristão pode declarar que aqueles que verdadeiramente se arrependem e creem no evangelho terão seus pecados perdoados por Deus. Por outro lado, eles podem advertir que aqueles que rejeitam Jesus Cristo vão morrer em seus pecados. Foi exatamente isso que os apóstolos fizeram, conforme se pode verificar quando se lê o livro de Atos (Atos 3.18-20; 13.26,38-39). Eles estavam obedecendo a Jesus que os havia comissionado a pregar a salvação e o perdão dos pecados pela fé em Cristo Jesus. Com autoridade, eles estavam abrindo a porta de salvação e convidando os pecadores a entrarem por ela para serem salvos e terem seus pecados perdoados (Jo 10.1-9). É improvável que, através das palavras ditas neste verso: “Se vocês perdoarem os pecados de alguém, esses pecados são perdoados; mas, se não perdoarem, eles não são perdoados, Jesus tencionava sancionar a prática de absolvição dos pecados após confissão auricular. No livro de Atos não existe qualquer ocasião em que achamos um apóstolo servindo-se deste tipo de absolvição. Adotar está prática como regra é voltar ao rudimentos da Lei e da prática dos rituais que tiveram sua validade, mas apenas para apontar para o que é verdadeiro, Jesus Cristo.

Os cristãos podem declarar que um pecador é perdoado ou não perdoado com base em como ele responde ao evangelho da salvação. A autoridade da igreja para dizer a alguém que ele está perdoado ou que ele ainda está em pecado vem diretamente da Palavra de Deus. Aqueles dentro da igreja têm tanto a autoridade quanto a obrigação de chamar o irmão pecador de volta ao arrependimento (Mt 18.15-20), e deixá-lo saber que por causa de seu flagrante desrespeito para com a Palavra de Deus, eles serão considerados de fora da comunhão com o povo de Deus. Os crentes têm autoridade para julgar porque Deus lhes deu Sua Palavra como padrão supremo. Sua autoridade não baseia em sua própria justiça pessoal, dons espirituais, ou a posição eclesiástica. Em vez disso, vem da autoridade da Palavra de Deus. Quando as pessoas rejeitam a mensagem salvífica do Evangelho, negando a pessoa e obra de Jesus Cristo, a igreja tem autoridade divina, baseada na Palavra revelada de Deus, para dizer-lhes que eles vão perecer no inferno se não se arrependerem (Lucas 13:1 -5; cf. João 3:18). Por outro lado, quando as pessoas professam a fé em Cristo como seu Salvador e Senhor, a igreja pode afirmar que a profissão de fé, se é genuína, irá conduzir o pecador a salvação e perdão de seus pecados (Rm 10.9-10).

Os discípulos sabiam que somente Deus pode perdoar pecados. O que Jesus estava ensinando é que é responsabilidade da Igreja como Corpo de Cristo e não de apenas uma elite que ocupa funções eclesiásticas, anunciar o Evangelho em todo o mundo, a fim de que todo aquele que crer em Jesus possa encontrar o precioso perdão de seus pecados.

Concluo está reflexão com um profundo senso da importância do ofício de um ministro do Evangelho, quando este é realizado de acordo com a revelação de Deus em sua Palavra. Não existe honra maior do que ser embaixador do Reino de Deus e proclamar em Nome de Cristo o perdão dos pecados (2Co 5.18-20). Porém, devemos ter o cuidado de não tributar a um ministério, pessoa ou instituição eclesiástica mais autoridade do que a que o próprio Jesus lhe tenha conferido. Tratar os ministros do Evangelho como intermediários entre Deus e o homem é roubar de Cristo a prerrogativa que só ele tem (Jo 14.6; At 4.12; 1Tm 2.5-6; Hb 4.14-16; 10.19-22; 1Jo 1.9; 2.1-2; Ap 5.9), é ocultar dos pecadores a verdade da salvação e exaltar homens ordenados ao ministério a uma posição para a qual estão totalmente desqualificados (Rm 3.10-12,23).