Já vimos que o evangelho teve sua
origem em Deus e que o mesmo vem como as boas notícias para a humanidade. No
entanto, para compreender esta boa notícia é preciso primeiro compreender as
más notícias que estão por trás das boas notícias. O evangelho no revela que
precisamos da salvação, mas a pergunta a se fazer é: ser salvo de quê? Vimos
que, com a entrada do pecado no mundo veio também à maldição: “certamente morrerás.” (Gn 2.17) e “maldita é a terra por tua causa... Tus és
pó e ao pó tornarás” (Gn 3.17,19). Com isso, todo ser humano se encontra
debaixo da ira de Deus. Deus não tolera o pecado e todo aquele que vive na
prática dele está debaixo desta ira (Jo 3.36). O pecado na Bíblia é descrito
como a transgressão da Lei (1Jo 3.4). Certa vez recebi uma multa por
ultrapassar o limite de velocidade e outro dia por estacionar em local
proibido. Perante a lei sou culpado desta transgressão, porém, apesar do peso
que isto trouxe ao meu bolso, não me senti terrivelmente culpado e nem perdi o
sono por ter desobedecido à lei. Não precisei pedir perdão a ninguém. Porque
não me senti culpado? Provavelmente porque considerando a questão, não foi algo
tão grave a ponto de me fazer ficar desesperado, a não ser pela multa que tive
de pagar, mas minha consciência não foi torturada por isso. Muitas pessoas
pensam no pecado, especialmente o seu, como se fosse nada mais do que uma multa
de trânsito, ou quem sabe uma pequena transgressão tal como mentir, fofocar, murmurar,
sonegar um imposto entre outras coisas. Talvez pelo fato de pensar que há
crimes piores do que estes tais como o roubo, assassinato, corrupção, eles não
o consideram um crime tão grave. Esta é
uma forma muito simplista de pensar no pecado. De acordo com a Bíblia o pecado
é muito mais do que uma simples violação das leis de trânsito ou de convívio
social. Pecado é a quebra de um relacionamento e, ainda mais, é uma rejeição e
repúdio ao governo, cuidado e autoridade de Deus de como Criador e Soberano dar
ordens àqueles a quem Ele deu a vida. Pecado é a rebelião da criatura contra o seu
Criador (Sl 14.1; 53.1; Rm 1.21-23).
Onde
tudo começou: ao nos criar, Deus tinha a intenção de que
vivêssemos sob seu governo perfeito e justo, em alegria completa, adorando-o e
servindo-o, vivendo em plena comunhão com Ele. O ser humano foi criado à imagem
e semelhança de Deus, tendo o domínio sobre toda a criação manifestando a
glória de Deus ao mundo (Gn 1.26-28). O governo e autoridade do ser humano
sobre a criação foi-lhes outorgada por Deus, eles estavam sob o domínio maior
do Criador, que tinha todo o direito (e ainda tem) de lhes dar ordem. A árvore
do conhecimento do bem do mal era uma lembrança deste fato. Ao olhar para a
árvore, Adão e Eva deveriam lembrar que seu domínio e autoridade eram
limitados. Eles eram criaturas e tinham a responsabilidade de administrar as
obras de Deus. Ao comerem o fruto, eles não apenas violaram a Lei estabelecida
por Deus (...“dela não comerás...”), mas rejeitaram a autoridade de Deus
declarando-se independentes. Em todo o universo, havia somente uma coisa que
Deus não dera como domínio para Adão, o próprio Deus. Mas, diante do argumento
“sereis como Deus”, ele decidiu que essa situação não lhe era conveniente, por
isso rebelou-se. Por causa disto, foram expulsos da presença do Senhor e se
tornaram inimigos de Deus. Adão e Eva trocaram o favor de Deus pela busca do
seu próprio prazer e de sua própria glória. Este foi o pecado cometido por Adão
e também é o pecado cometido por todos nós. Rejeitamos as leis de Deus e
queremos viver a vida do nosso jeito (e ninguém tem nada com isso). Por causa
disto, as consequências do pecado foram desastrosas para eles e para todos os
seus descendentes (Rm 5.12). A morte entrou no mundo e com ela toda maldição do
pecado. Embora, não morressem fisicamente, na mesma hora em que comeram do
fruto, eles morreram espiritualmente. Sua comunhão com Deus foi interrompida e,
assim, seu coração corrompeu-se, sua mente se encheu de pensamentos egoístas,
seus olhos se encheram de trevas e sua alma ficou destituída da glória de seu
Criador (Rm 3.23).
O
escândalo e a Loucura da pregação da Palavra da Cruz (1Co 1.18)
O Evangelho é cheio de pedras e
tropeços para corações que pensam obstinadamente de si mesmo como sendo bons e
autossuficientes. É revoltante para o ser humano reconhecer a sua pequenez e
incapacidade diante da Verdade revelada por Deus na sua Palavra. Por isso, é
tão importante entender a natureza e profundidade de nosso pecado. Se nos
aproximamos do evangelho entendendo o pecado como algo de somenos valor, é
sinal de que não entendemos o evangelho de Jesus Cristo.
Compreendendo
o problema do pecado (Rm 3.10-12)
·
Não
confunda o pecado com os efeitos do pecado: é comum
apresentarmos o evangelho como a solução para a falta de significado, propósito
e sentido na vida. Mas, o problema fundamental da humanidade vai muito além
disto. Isto são apenas sintomas de uma doença mais grave incrustada no coração
(Jr 17.9). Precisamos entender que a triste situação em que nos encontramos é
resultado de algo que nós mesmos produzimos. Nós temos desobedecido a Palavra
de Deus ignorando os seus mandamentos. Nós temos pecado contra Deus (Sl 51.4).
Falar sobre o comportamento como sendo o problema do pecado, faz com que as
pessoas se coloquem como vítimas (que culpa tenho eu se Adão pecou?) e, assim
nunca encarem o fato de que elas são pecadoras e, portanto, merecedoras de
condenação (Ez 18.20a).
·
Reduzir
o pecado a um relacionamento quebrado: muitos falam sobre
o pecado como se este fosse apenas uma contenda relacional entre Deus e o
homem, e o que precisamos é pedir e aceitar o perdão de Deus. O ensino da
Bíblia é que o pecado é realmente uma quebra do relacionamento com Deus, mas essa
quebra consiste numa rejeição de Deus como Rei e Soberano sobre todas as
coisas. Se reduzirmos o pecado à mera quebra de um relacionamento, nunca vamos
entender porque a morte de Jesus foi exigida para resolver o problema.
·
Confundir
pecado com pensamento negativo: “você foi criado
para ser cabeça e não cauda”, “você é filho de Deus, por isso não pense
pequeno, pense grande”. Estas são mensagens estimulantes para aumentar ainda
mais o nosso orgulho. Apenas diga o que as pessoas querem ouvir e você terá
muitos seguidores, igrejas lotadas e cheias de pessoas em busca de riquezas,
prosperidade e felicidade. Prometa-lhes prosperidade material e uma vida sem
doenças e logo você terá uma megaigreja. A Bíblia nos ensina que já pensamos de
maneira muito elevada sobre nós mesmos. Lembre-se da promessa da serpente:
“você precisam ampliar sua visão, chegar ao seu pleno potencial, ser como Deus,
vocês precisam pensar grande!” Qual foi o resultado de se buscar isso?
·
Confundir
o pecado com pecados: não temos dificuldades em admitir os
nossos pecados (mentira, fofocas, traição, roubo, desonestidade), pois os vemos
como pequenos erros que todos cometem (até justificamos dizendo: aquele que não
tem pecado que atire a primeira pedra), com alguns já nos acostumamos. O que é chocante é ter de encarar a sujeira
que permeia o nosso coração, as impurezas e corrupção que existe no mais íntimo
de nosso ser. Algo que está em nós, é nosso e não está apenas sobre nós.
Pensamos no pecado apenas como uma sujeira num vidro que precisa ser limpo e
que basta um bom produto para deixá-lo totalmente transparente. A natureza
humana não é tão bela assim, a sujeira não está do lado de fora, pelo
contrário, está impregnada em nós (Mt 15.19). Somos escravos do pecado,
condenados a passar a eternidade longe de Deus.
Não basta dizer que Jesus nos perdoa
de nossos pecados. Somente quando compreendemos a nossa própria natureza, que
estamos ‘mortos em nossos delitos e
pecados’, é que veremos quão boas são as novas de que há um meio de sermos
salvos.
O
julgamento de Deus contra o pecado (Rm 3.19-20)
A Bíblia diz que toda a humanidade
está debaixo do pecado e, portanto, sujeitos à ira e condenação de Deus. A
Bíblia é muita clara, como vimos, a respeito da verdade de que Deus é o
Criador, justo e santo e, por isso, não aceitará desculpas pelo pecado. Romanos
6.23 diz que “o salário do pecado é a morte”, este é o pagamento que devemos
dar a Deus. Não significa morrer apenas fisicamente, mas espiritualmente (estar
para sempre separado de Deus e de sua presença gloriosa). O julgamento de Deus
contra o pecado será terrível, o destino final dos pecadores impenitentes e
incrédulos é um lugar de tormento consciente e eterno (Ap 20.10,14-15). As
figuras utilizadas pela Bíblia para falar sobre o julgamento de Deus contra o
pecado são terríveis. Embora, para muitos isto seja loucura, não inventamos
isso, foi criação de Deus para julgamento de todo aquele que rejeita o seu
governo (Mt 24.41). Este é o veredito final da Bíblia: “não há um justo, nem um
sequer”. Por isso, se você ainda não entendeu a necessidade que você tem da
salvação, peço que você o faça hoje, pois chegará o dia em que toda língua
confessará, todo joelho se dobrará e reconhecerá que Jesus Cristo é o Senhor.