Não são muitos os que se utilizam deste salmo como se fosse uma espécie de amuleto de proteção. Você provavelmente já deve ter visto em algum lugar uma Bíblia aberta neste salmo, possivelmente até empoeirada pelo tempo que está ali. Verdade é que, de nada adianta você ter uma Bíblia aberta no salmo 91 se não entender a verdadeira essência do seu significado. Sendo usado desta forma, ele não passará de um objeto de crendice popular que hipoteticamente traz proteção a vida da pessoa.
A estrutura deste Salmo no texto hebraico é muito evidente e
fácil de se reconhecer. Os versículos 1 e 2 apresentam um fato: Aquele que se
esconde em Deus faz declarações de confiança ao próprio Deus. O restante do
Salmo apresenta 4 argumentos pelos quais essa é uma verdade: 3-8; 9-10; 11-13 e
14-16. No texto hebraico, cada uma dessas seções começa com a conjunção ki, que neste caso significa
“pois, porque”, apresentando, assim, as razões, os fundamentos para a afirmação
dos versículos 1 e 2. Infelizmente algumas traduções em português omitem essa
conjunção que é fundamental para compreender a estrutura deste salmo.
V.1 - O Salmista está declarando a sua confiança em Deus e
ensinando os seus ouvintes a fazer o mesmo, pois vale a pena fazê-lo.
V.3-8: Esse Salmo é usado por muitos como uma promessa
garantida contra todo o tipo de mal. Esse Salmo contém promessas? Tenho certeza
que sim. Mas as promessas que têm, precisam ser colocadas no contexto de toda a
história da redenção. No momento que abrange o período do Antigo Testamento e
no momento em que vivemos agora, do já e ainda não, as promessas desse Salmo se
cumprem parcialmente. Às vezes Deus livra os seus servos milagrosamente, em
outras Ele permite que eles sofram e sejam martirizados, garantindo-lhes as
promessas deste Salmo para depois da morte. O livramento maior que nos foi dado
pelo Senhor, não está no fato de que não sofreremos com as adversidades deste
mundo, pois o próprio Jesus nos diz que neste mundo teremos aflições. Mas, a
uma certeza na vida daquele que crê e confia no Senhor e nas suas Promessas:
Jesus, também diz: tende bom ânimo, eu venci o mundo! E, em Cristo, nós também
somos mais que vencedores e nada pode nos separar do seu amor. Este é o consolo
maior que temos da parte de Deus, de que um dia Ele enxugará dos olhos toda lágrima. E já não existirá mais morte, já não
haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. (Apocalipse
21:4)
- Certamente,
ao final, Deus vai livrar aqueles que se abrigam nele.
V.9-10: Esses versículos não
apresentam uma razão nova, mas resumem o que o Salmo apresentou até aqui – Deus
é refúgio para aqueles que se abrigam nEle, que confiam na sua providência. O
tema de Deus como refúgio, esconderijo, torre forte, escudo, habitação, ou
seja, protetor, aparece em todo o Salmo. Revelando a total segurança daquele
que confia no Senhor e na sua Palavra.
V. 11-13: Aqui o texto apresenta uma nova razão do porquê
aquele que abriga no esconderijo de Deus pode declarar a sua confiança em Deus.
A razão é que Deus usa anjos para cuidar daqueles que lhe pertencem. Não estou
aqui, é claro, dizendo que você tem um anjo da guarda protetor específico em
sua vida como ensinam alguns místicos, e que se você orar para o seu anjo da
guarda ele vai te livrar. O livramento vem do Senhor e aqueles que nEle têm
essa confiança, anjos de Deus o guardam e livram do mal (Sl 34.6-8). Os anjos
são chamados de “espíritos ministradores, enviados para serviço a favor dos que
hão de herdar a salvação” (Hebreus 1.14). Deus é louvado por conceder
livramento, em resposta às preces de Seu povo. A ideia dos anjos trazer o
livramento revela a sensação de Deus nos rodeando ou pairando sobre nós, portanto,
não há o que temer — até mesmo nas situações causadoras de maior
desespero.
V.14-16: A última razão que o Salmo
apresenta é diferente, pois nela, o próprio Deus é quem fala em primeira
pessoa. É algo comum no livro de Salmos, Deus se manifestar e falar ao coração
do salmista, trazendo-lhe conforto e direção para sua vida. Nesses versículos é
o próprio Deus quem promete libertação, resposta, sua presença na angústia (o
que deixa claro que o fiel passará por angústias), glorificação, longevidade e
salvação!
Como podemos ver, este salmo mostra a ação protetora de Deus
em diferentes ocasiões. Muitos têm alimentado sua fé e educado suas mentes
contra medos nada razoáveis e inúteis decorando e repetindo frequentemente este
salmo como se isso fosse de algum proveito. Quero que você entenda que este
salmo não contém “palavras mágicas” que produzem efeito por si só. Mas, dentro
de um relacionamento pessoal com Deus, o fortalecimento da fé que a leitura
dele (e da Bíblia em geral) pode produzir, além de nos tranquilizar e dar
segurança, abre caminho para que o poder protetor de Deus se manifeste em nossas
vidas. A segurança provém de uma busca pessoal por Deus, por um relacionamento
debaixo da proteção dele (“A pessoa que habita, traz a ideia de alguém que faz
do Senhor a sua morada, que procura segurança no Deus Altíssimo”), e não por
alguma espécie de “feitiço” ou “talismã” (coisas que, na verdade, Deus detesta,
veja Dt 18.9-12). Deus pessoalmente é onipotente, refúgio, baluarte, confiança
e segurança. Ele é quem guarda, sustenta e livra.
É impossível acontecer qualquer mal àquele que pertence
ao Senhor, as mais esmagadoras calamidades nada mais fazem do que encurtar
nossa peregrinação e nos aproximar mais
do Senhor. As dificuldades são bênçãos numa forma oculta. As perdas nos
enriquecem, a doença é um remédio, o desprezo do mundo é nossa glória, a
morte a porta do céu.
“Porque a nossa leve e
momentânea tribulação produz para nós um eterno peso de glória, acima de toda
comparação, na medida em que não olhamos para as coisas que se veem, mas para
as que não se veem. Porque as coisas que se veem são temporais, mas as que não
se veem são eternas.” (2
Coríntios 4:17,18)
Extraído e adaptado
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