O mundo que vivemos está
cada vez mais conturbado. Diariamente os jornais trazem notícias de assaltos,
assassinatos, atentados, corrupção e falta de justiça. Situações que nos deixam
perplexos e indignados. Acreditamos que Deus está no controle de tudo (Dn
2.20-22), mas achamos difícil compreender a maldade que nos cerca. Pessoas
inocentes são vítimas da crueldade de outros. Nações entram em conflitos e
inocentes morrem. Ladrões matam e roubam e nada lhes acontece. Circunstâncias
assim me levam a pensar que a vida não faz sentido; olhamos para Deus com uma
única pergunta: "Por que Senhor, até quando permitirás que a injustiça
prevaleça, até quando vou clamar e o Senhor não irá me responder?”. Para nos
ajudar a superar nossa dificuldade em confiar em Deus quando o sofrimento é
inevitável, quero refletir com você sobre a vida de um homem para quem a vida
não fez sentido, que profetizou um futuro sem perspectivas para si mesmo e para
o povo de Deus. Mas, alguém que aprendeu a ter uma perspectiva divina do
sofrimento e das provações, que transformou sua murmuração e questionamento, em
adoração e fé, que aprendeu a responder as provações da vida com humildade.
Vamos refletir sobre a vida do profeta Habacuque.
Contexto histórico: Pouco se sabe sobre
Habacuque exceto que foi um profeta que vivia no reino de Judá, “possivelmente
no reinado de Josias ou de Jeoiaquim (por volta de 600 a.C.)” Se as datas estão corretas, ele deve ter sido
contemporâneo dos Profetas Jeremias, Sofonias, Obadias e Ezequiel. O livro com
apenas 3 capítulos está relacionado entre os chamados profetas menores
(conteúdo). O livro começa com um lamento perguntando “por que” e “quanto
tempo”, mas termina com a certeza num cântico de fé. O triunfo da fé na
vida de Habacuque mostra que a nossa maior luta não vêm em nosso relacionamento
com outras pessoas ou por causa das circunstâncias que nos cercam, mas de nosso
relacionamento com Deus.
1. Uma
oração de questionamento: Até quando,
Senhor? (1:1-4):
Habacuque começa seu livro
com uma série de perguntas (Hc 1:2-3). A angústia do profeta era de longa data, e
finalmente eclodiu em duas denúncias. Primeiro, ele queria saber por que Deus
parecia tão indiferente: Por que Deus não ouvia o seu clamor? Em segundo lugar,
ele queria saber por que Deus parecia tão insensível: Por que Deus não o ajuda?
É interessante observar que o verbo “clamar” significa simplesmente “pedir
socorro”, mas a agonia era tamanha que, em seguida ele diz: “gritar-te-ei”, que
no hebraico quer dizer “clamar com um coração perturbado”. Habacuque viu a violência de Jerusalém e a
injustiça de seus líderes, e não entendeu a tolerância do Senhor. A preocupação de
Habacuque não era apenas que seu clamor não fosse ouvido, mas que a corrupção
continuasse crescendo. O pecado havia se
espalhado e Deus parecia indiferente. O profeta
não conseguia entender o aparente silêncio de Deus perante a terrível situação
em que o povo de Deus se encontrava. O profeta demonstra preocupação com a
nação e toda gama de violência e injustiça que estava acontecendo.
Aplicação: Você se identifica com o profeta? Tem orado a Deus e
parece que ele está indiferente ao seu clamor? Quando você vê as notícias, o
sentimento que tem é de desilusão? Habacuque tinha muitas dúvidas,
assim como você deve ter as suas, no entanto, o profeta levou suas dúvidas a
Deus e não teve medo de se expor perante Ele.
2. Uma resposta inesperada, a dúvida sobre os
métodos de Deus (1.5-11):
Deus respondeu a Habacuque e
garantiu-lhe que, ainda que ele não pudesse ver, o Senhor estava operando em
meio às nações. O profeta estava inquieto com o silêncio de Deus; mas ficou
mais desesperado quando Deus começou a falar. O pecado do povo não iria durar
para sempre. A justiça não estava morta nem ociosa. Mas a surpresa não era a
disciplina, mas de onde ela viria. O instrumento da ira
divina seria o povo caldeu, ou seja, os babilônios, o qual Deus descreve como
povo forte e cruel. Um povo que fazia suas próprias leis (não respeitava a
autoridade de ninguém), destruindo seus inimigos e adorando seu próprio poder
como se fosse um deus. O profeta ficou horrorizado ao ouvir que o Senhor
iria empregar um instrumento tão mal para punir o seu povo.
a. Porque Deus usaria um povo de iniquidade? (1.12-13): Deus já havia usado
outros instrumentos para disciplinar seu povo: guerras, calamidades naturais, a
pregação dos profetas, mas eles não haviam dado ouvidos; os judeus afirmavam
conhecer o Senhor e, ainda assim, estavam pecando contra a lei na qual diziam
crer! O pecado na vida de um cristão é muito pior do que o pecado na vida de um
incrédulo.
b. Por que Deus usaria um povo impiedoso e cruel? (1.14-15): Durante quarenta
anos, o profeta Jeremias advertiu o povo de Judá e suplicou que voltassem para
Deus, mas eles se recusaram a ouvir.
c. Por que Deus usaria
um povo idólatra? (1.16-17): O pecado jamais ficará impune. Os judeus
acreditavam que Deus estaria com eles para defendê-los contra seus inimigos em
quaisquer circunstâncias, mesmo estando em pecado. Na verdade, um dia, todos os
filhos de Deus terão que enfrentar o julgamento divino. Além disso, não podemos
esquecer que o juízo começa pela casa de Deus (1Pe 4.17). O pecado do povo de
Deus é mais grave do que o pecado do ímpio.
Habacuque
expressou sua profunda preocupação e questionou o plano de Deus, mas reconhece sua pureza e santidade. Habacuque reconhece que
Deus na sua Soberania tem todo o direito de fazer o que deseja e aceita sua
vontade expressando confiança no Senhor (Rm 9.15-24).
Aplicação: você tem dificuldade de entender os caminhos de Deus?
Diante disso, o que você faz – confia e espera sabendo que a Sua vontade é
“boa, perfeita e agradável”, ou reclama e murmura? Habacuque
resolveu esperar pela resposta de Deus, colocando-se na torre de vigia. E em
obediência ao Senhor proclama a mensagem para que todos tomem conhecimento (Hc
2.4). Um dia, no tempo determinado, Deus puniria a Babilônia por todo mal que
causou, mas o justo deve continuar perseverando e confiando em Deus (Lc 21.19).
3. Nas
incertezas da vida, a fé é o que nos mantém de pé (2.1-5):
Habacuque havia corajosamente
apresentado seus argumentos e agora ele espera como um vigia pela resposta de
Deus. Deus revela a Habacuque o que haveria de acontecer e pede que o mesmo
escreva a visão de maneira que todos possam ver. Deus é fiel! E tudo aquilo que
Ele diz se cumpre. Na verdade, jamais devemos esquecer que ninguém pode
frustrar os planos de Deus nem jamais frustrar os seus desígnios (2Pe 3.8-10).
Habacuque recebeu a promessa de que a arrogância do perverso não duraria para
sempre. Habacuque recebe três certezas maravilhosas de Deus:
a. A Graça de Deus (2.4)
– O Justo viverá pela fé. O profeta Habacuque recebeu a certeza de que o justo
vive pela fé e é salvo pela Graça do Altíssimo. Tudo é obra de Deus! O profeta sabia que o povo de Judá teria pela
frente tempos difíceis e que seu único recurso era confiar na Palavra de Deus e
descansar em sua vontade. Ter fé não é crer apesar das evidências, mas sim
obedecer apesar das circunstâncias, descansando na fidelidade de Deus.
b. A Glória de Deus
(2.14) –
No fim, o império que vai prevalecer não será a grande Babilônia. Na verdade,
Habacuque pode compreender que o reino de Deus vai dominar o mundo. A glória
que encherá a terra não é a dos homens poderosos, mas a do Deus todo-poderoso.
c. A Soberania de Deus (2.20)
– Os
ídolos são surdos, impotentes e mortos. Eles não podem fazer nada. Mas Deus
está entronizado no Seu santo templo, e toda a terra deve se curvar reverente
diante da Sua face. Deus é o Senhor da história e nada foge do seu controle.
Aplicação:
quando a vida não faz sentido o que você faz? Continua confiando em Deus e na
sua providência, controle e direção ou passa a tomar suas próprias decisões?
Adorar
a Deus e servi-Lo quando tudo vai bem é muito fácil. O difícil é adorar ao
Senhor quando as circunstâncias não são favoráveis. A situação não havia
mudado, Judá seria disciplinada pela Babilônia, mas o coração do profeta
Habacuque mudou. Ele foi capaz de adorar a Deus mesmo em meio à crise. Isso só
é possível quando tiramos os olhos dos problemas e os coloquemos na grandeza de
nosso Deus e Suas promessas.
Habacuque
recebe a promessa de que para os fiéis judeus, que perseverassem pela fé, o
Senhor seria refúgio e fortaleza; mas para os perversos e arrogantes, um juiz
implacável que no tempo certo, daria a estes o que eles merecem. O Senhor
pronuncia 5 Ais contra a Babilônia pelos seguintes motivos:
· Ambição
egoísta (Hc 2.6-8): os babilônios não mediam esforços para adquirir riquezas e
expandir seu reinado;
·Ganância
(Hc 2.9-11): a busca insaciável pelo poder deu a Babilônia uma falsa segurança.
Eles não levaram em conta que ninguém pode construir muros tão altos que Deus não
possa derrubar;
·Exploração
do povo ((Hc 2.12-14): a grandeza da Babilônia foi construída com o sangue de vítimas
inocentes;
·Embriaguez
e violência (Hc 2.15-17): a luxúria e a imoralidade eram características da
Babilônia.
·Idolatria
(Hc 2.18-20): a Babilônia era conhecida pelos seus ídolos e se vangloriavam de
seus deuses.
Por tudo isto, os babilônios
receberiam o devido castigo. Isto aconteceu quando os Medos-Persas invadiram e
destruíram a Babilônia.
4. Consolo do profeta – uma resposta de
louvor a Deus (3.17-19):
O capítulo 3 é o ápice do livro de
Habacuque. É o resultado de uma jornada que começou em um vale da aflição. O que fez com que o profeta saísse do vale de dor e
alcançasse o alto do monte?
a. A Intercessão do
Profeta (Hc 3.1-2): É
interessante observar que diante da resposta de Deus no capítulo 2, o profeta
Habacuque começou a orar ao Senhor ao invés de discutir, e sua oração logo se transformou
em louvor e adoração a Deus. Essa é uma importante lição para todos aqueles que
creem no Senhor. Ao ouvir a Palavra de Deus devemos dobrar os nossos joelhos. A
Palavra de Deus cria em nós uma total dependência pelo Altíssimo. Na verdade, a
voz de Deus deve nos levar as lágrimas (em reverência) e aos joelhos (em
dependência).
b. A Visão do Profeta
acerca da obra de Deus (Hc 3.3-15): Deus revela Sua grandeza na criação, nas
Escrituras e na história, e se tivermos olhos para ver, podemos contemplar sua
glória. O profeta em forma de cântico narra os poderosos feitos de Deus na
história de Israel. Você consegue olhar para sua vida e ver a poderosa mão de
Deus agindo em seu favor?
c. A Confiança do
Profeta em Deus (Hc 3.16-19): Se o profeta dependesse de seus sentimentos,
jamais teria escrito essa magnífica confissão de fé. Mas, quando pela fé ele
olhou para o alto, viu Deus, e todos os seus medos dissiparem. Ou seja, andar
pela fé significa focar-se somente na grandeza e na glória de Deus. Habacuque
declara que sua alegria era ultra circunstancial. Sua alegria não era
determinada pela presença dos bens ou a ausência deles. Sua alegria estava no
Altíssimo. Deus é a fonte inesgotável e infinita de toda alegria. Habacuque não
podia se alegrar em suas circunstâncias, mas podia se alegrar em seu Deus! Por
causa de sua fé no Senhor, o profeta Habacuque pôde ficar em pé e caminhar a
passos firmes como uma corça. O motivo pelo qual Deus permite que passemos por
provações: elas podem nos aproximar dEle e nos elevar acima das circunstâncias
para que andemos nas alturas com o Senhor.
“Nossa alegria é
proporcional a nossa confiança. Nossa confiança é proporcional ao nosso
conhecimento de Deus”. (G. Campbell Morgan)
Conclusão
Então, a que conclusão
você conseguiu chegar está noite. Diante das adversidades e problemas da vida
qual será sua resposta. Do que você está mais consciente: da sua luta e
sofrimento ou de um Deus que na sua graça e misericórdia lhe concedeu o maior
bem que alguém poderia ter: a salvação de sua alma? Como você irá responder
quando as circunstâncias parecerem contradizer o caráter e as promessas de Deus.
Como você responderá quando a vida não fizer sentido? Irá reclamar, murmurar ou
descansar e confiar?
O livro do profeta Habacuque nos
ensina a encarar nossas dúvidas, angústias e conflitos com honestidade, e
também, a levá-los humildemente ao Senhor, e a esperar que sua Palavra nos
ensine e, então, adorá-lo a despeito do que estamos pensando, sentindo ou
vendo. Jamais devemos esquecer que Deus nem sempre muda as circunstâncias, mas
pode nos transformar para enfrentarmos as situações mais difíceis. Isso é viver
pela fé.
Tu guardarás em perfeita paz todos que em ti confiam, aqueles cujos
propósitos estão firmes em ti. Confiem sempre no Senhor, pois o Senhor Deus
é a Rocha eterna.
Lembre-se:
o justo viverá pela fé!
Referências para Estudo:
JUNIOR. Jocarli. Estudo expositivo no livro de Habacuque. Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro. 2010
Biblia de Estudo Arqueológica NVI. São Paulo. Editora Vida. 2013.
Bíblia de Estudo Almeida RA. Barueri/SP. SBB, 1999.
HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo. Editora Vida, 2005.
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