segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Quando a vida não faz sentido - Livro de Habacuque

O mundo que vivemos está cada vez mais conturbado. Diariamente os jornais trazem notícias de assaltos, assassinatos, atentados, corrupção e falta de justiça. Situações que nos deixam perplexos e indignados. Acreditamos que Deus está no controle de tudo (Dn 2.20-22), mas achamos difícil compreender a maldade que nos cerca. Pessoas inocentes são vítimas da crueldade de outros. Nações entram em conflitos e inocentes morrem. Ladrões matam e roubam e nada lhes acontece. Circunstâncias assim me levam a pensar que a vida não faz sentido; olhamos para Deus com uma única pergunta: "Por que Senhor, até quando permitirás que a injustiça prevaleça, até quando vou clamar e o Senhor não irá me responder?”. Para nos ajudar a superar nossa dificuldade em confiar em Deus quando o sofrimento é inevitável, quero refletir com você sobre a vida de um homem para quem a vida não fez sentido, que profetizou um futuro sem perspectivas para si mesmo e para o povo de Deus. Mas, alguém que aprendeu a ter uma perspectiva divina do sofrimento e das provações, que transformou sua murmuração e questionamento, em adoração e fé, que aprendeu a responder as provações da vida com humildade. Vamos refletir sobre a vida do profeta Habacuque.
Contexto histórico: Pouco se sabe sobre Habacuque exceto que foi um profeta que vivia no reino de Judá, “possivelmente no reinado de Josias ou de Jeoiaquim (por volta de 600 a.C.)” Se as datas estão corretas, ele deve ter sido contemporâneo dos Profetas Jeremias, Sofonias, Obadias e Ezequiel. O livro com apenas 3 capítulos está relacionado entre os chamados profetas menores (conteúdo). O livro começa com um lamento perguntando “por que” e “quanto tempo”, mas termina com a certeza num cântico de fé. O triunfo da  na vida de Habacuque mostra que a nossa maior luta não vêm em nosso relacionamento com outras pessoas ou por causa das circunstâncias que nos cercam, mas de nosso relacionamento com Deus.
1. Uma oração de questionamento: Até quando, Senhor? (1:1-4):
Habacuque começa seu livro com uma série de perguntas (Hc 1:2-3). A angústia do profeta era de longa data, e finalmente eclodiu em duas denúncias. Primeiro, ele queria saber por que Deus parecia tão indiferente: Por que Deus não ouvia o seu clamor? Em segundo lugar, ele queria saber por que Deus parecia tão insensível: Por que Deus não o ajuda? É interessante observar que o verbo “clamar” significa simplesmente “pedir socorro”, mas a agonia era tamanha que, em seguida ele diz: “gritar-te-ei”, que no hebraico quer dizer “clamar com um coração perturbado”.   Habacuque viu a violência de Jerusalém e a injustiça de seus líderes, e não entendeu a tolerância do Senhor. A preocupação de Habacuque não era apenas que seu clamor não fosse ouvido, mas que a corrupção continuasse crescendo. O pecado havia se espalhado e Deus parecia indiferente. O profeta não conseguia entender o aparente silêncio de Deus perante a terrível situação em que o povo de Deus se encontrava. O profeta demonstra preocupação com a nação e toda gama de violência e injustiça que estava acontecendo.
Aplicação: Você se identifica com o profeta? Tem orado a Deus e parece que ele está indiferente ao seu clamor? Quando você vê as notícias, o sentimento que tem é de desilusão? Habacuque tinha muitas dúvidas, assim como você deve ter as suas, no entanto, o profeta levou suas dúvidas a Deus e não teve medo de se expor perante Ele.
2. Uma resposta inesperada, a dúvida sobre os métodos de Deus (1.5-11):
Deus respondeu a Habacuque e garantiu-lhe que, ainda que ele não pudesse ver, o Senhor estava operando em meio às nações. O profeta estava inquieto com o silêncio de Deus; mas ficou mais desesperado quando Deus começou a falar. O pecado do povo não iria durar para sempre. A justiça não estava morta nem ociosa. Mas a surpresa não era a disciplina, mas de onde ela viria.  O instrumento da ira divina seria o povo caldeu, ou seja, os babilônios, o qual Deus descreve como povo forte e cruel. Um povo que fazia suas próprias leis (não respeitava a autoridade de ninguém), destruindo seus inimigos e adorando seu próprio poder como se fosse um deus. O profeta ficou horrorizado ao ouvir que o Senhor iria empregar um instrumento tão mal para punir o seu povo.
a. Porque Deus usaria um povo de iniquidade? (1.12-13): Deus já havia usado outros instrumentos para disciplinar seu povo: guerras, calamidades naturais, a pregação dos profetas, mas eles não haviam dado ouvidos; os judeus afirmavam conhecer o Senhor e, ainda assim, estavam pecando contra a lei na qual diziam crer! O pecado na vida de um cristão é muito pior do que o pecado na vida de um incrédulo.
b. Por que Deus usaria um povo impiedoso e cruel? (1.14-15): Durante quarenta anos, o profeta Jeremias advertiu o povo de Judá e suplicou que voltassem para Deus, mas eles se recusaram a ouvir.
c.  Por que Deus usaria um povo idólatra? (1.16-17): O pecado jamais ficará impune. Os judeus acreditavam que Deus estaria com eles para defendê-los contra seus inimigos em quaisquer circunstâncias, mesmo estando em pecado. Na verdade, um dia, todos os filhos de Deus terão que enfrentar o julgamento divino. Além disso, não podemos esquecer que o juízo começa pela casa de Deus (1Pe 4.17). O pecado do povo de Deus é mais grave do que o pecado do ímpio.
Habacuque expressou sua profunda preocupação e questionou o plano de Deus, mas reconhece sua pureza e santidade. Habacuque reconhece que Deus na sua Soberania tem todo o direito de fazer o que deseja e aceita sua vontade expressando confiança no Senhor (Rm 9.15-24).
Aplicação: você tem dificuldade de entender os caminhos de Deus? Diante disso, o que você faz – confia e espera sabendo que a Sua vontade é “boa, perfeita e agradável”, ou reclama e murmura? Habacuque resolveu esperar pela resposta de Deus, colocando-se na torre de vigia. E em obediência ao Senhor proclama a mensagem para que todos tomem conhecimento (Hc 2.4). Um dia, no tempo determinado, Deus puniria a Babilônia por todo mal que causou, mas o justo deve continuar perseverando e confiando em Deus (Lc 21.19).
 3. Nas incertezas da vida, a fé é o que nos mantém de pé (2.1-5):
Habacuque havia corajosamente apresentado seus argumentos e agora ele espera como um vigia pela resposta de Deus. Deus revela a Habacuque o que haveria de acontecer e pede que o mesmo escreva a visão de maneira que todos possam ver. Deus é fiel! E tudo aquilo que Ele diz se cumpre. Na verdade, jamais devemos esquecer que ninguém pode frustrar os planos de Deus nem jamais frustrar os seus desígnios (2Pe 3.8-10). Habacuque recebeu a promessa de que a arrogância do perverso não duraria para sempre. Habacuque recebe três certezas maravilhosas de Deus:
a. A Graça de Deus (2.4) – O Justo viverá pela fé. O profeta Habacuque recebeu a certeza de que o justo vive pela fé e é salvo pela Graça do Altíssimo. Tudo é obra de Deus!  O profeta sabia que o povo de Judá teria pela frente tempos difíceis e que seu único recurso era confiar na Palavra de Deus e descansar em sua vontade. Ter fé não é crer apesar das evidências, mas sim obedecer apesar das circunstâncias, descansando na fidelidade de Deus.
b. A Glória de Deus (2.14) – No fim, o império que vai prevalecer não será a grande Babilônia. Na verdade, Habacuque pode compreender que o reino de Deus vai dominar o mundo. A glória que encherá a terra não é a dos homens poderosos, mas a do Deus todo-poderoso.
c.  A Soberania de Deus (2.20) – Os ídolos são surdos, impotentes e mortos. Eles não podem fazer nada. Mas Deus está entronizado no Seu santo templo, e toda a terra deve se curvar reverente diante da Sua face. Deus é o Senhor da história e nada foge do seu controle.
Aplicação: quando a vida não faz sentido o que você faz? Continua confiando em Deus e na sua providência, controle e direção ou passa a tomar suas próprias decisões?
Adorar a Deus e servi-Lo quando tudo vai bem é muito fácil. O difícil é adorar ao Senhor quando as circunstâncias não são favoráveis. A situação não havia mudado, Judá seria disciplinada pela Babilônia, mas o coração do profeta Habacuque mudou. Ele foi capaz de adorar a Deus mesmo em meio à crise. Isso só é possível quando tiramos os olhos dos problemas e os coloquemos na grandeza de nosso Deus e Suas promessas.
Habacuque recebe a promessa de que para os fiéis judeus, que perseverassem pela fé, o Senhor seria refúgio e fortaleza; mas para os perversos e arrogantes, um juiz implacável que no tempo certo, daria a estes o que eles merecem. O Senhor pronuncia 5 Ais contra a Babilônia pelos seguintes motivos:

· Ambição egoísta (Hc 2.6-8): os babilônios não mediam esforços para adquirir riquezas e expandir seu reinado;
·Ganância (Hc 2.9-11): a busca insaciável pelo poder deu a Babilônia uma falsa segurança. Eles não levaram em conta que ninguém pode construir muros tão altos que Deus não possa derrubar;
·Exploração do povo ((Hc 2.12-14): a grandeza da Babilônia foi construída com o sangue de vítimas inocentes;
·Embriaguez e violência (Hc 2.15-17): a luxúria e a imoralidade eram características da Babilônia.
·Idolatria (Hc 2.18-20): a Babilônia era conhecida pelos seus ídolos e se vangloriavam de seus deuses.
Por tudo isto, os babilônios receberiam o devido castigo. Isto aconteceu quando os Medos-Persas invadiram e destruíram a Babilônia.

4. Consolo do profeta – uma resposta de louvor a Deus (3.17-19):
O capítulo 3 é o ápice do livro de Habacuque. É o resultado de uma jornada que começou em um vale da aflição. O que fez com que o profeta saísse do vale de dor e alcançasse o alto do monte?
a. A Intercessão do Profeta (Hc 3.1-2): É interessante observar que diante da resposta de Deus no capítulo 2, o profeta Habacuque começou a orar ao Senhor ao invés de discutir, e sua oração logo se transformou em louvor e adoração a Deus. Essa é uma importante lição para todos aqueles que creem no Senhor. Ao ouvir a Palavra de Deus devemos dobrar os nossos joelhos. A Palavra de Deus cria em nós uma total dependência pelo Altíssimo. Na verdade, a voz de Deus deve nos levar as lágrimas (em reverência) e aos joelhos (em dependência).
b. A Visão do Profeta acerca da obra de Deus (Hc 3.3-15): Deus revela Sua grandeza na criação, nas Escrituras e na história, e se tivermos olhos para ver, podemos contemplar sua glória. O profeta em forma de cântico narra os poderosos feitos de Deus na história de Israel. Você consegue olhar para sua vida e ver a poderosa mão de Deus agindo em seu favor?
c.  A Confiança do Profeta em Deus (Hc 3.16-19): Se o profeta dependesse de seus sentimentos, jamais teria escrito essa magnífica confissão de fé. Mas, quando pela fé ele olhou para o alto, viu Deus, e todos os seus medos dissiparem. Ou seja, andar pela fé significa focar-se somente na grandeza e na glória de Deus. Habacuque declara que sua alegria era ultra circunstancial. Sua alegria não era determinada pela presença dos bens ou a ausência deles. Sua alegria estava no Altíssimo. Deus é a fonte inesgotável e infinita de toda alegria. Habacuque não podia se alegrar em suas circunstâncias, mas podia se alegrar em seu Deus! Por causa de sua fé no Senhor, o profeta Habacuque pôde ficar em pé e caminhar a passos firmes como uma corça. O motivo pelo qual Deus permite que passemos por provações: elas podem nos aproximar dEle e nos elevar acima das circunstâncias para que andemos nas alturas com o Senhor.
“Nossa alegria é proporcional a nossa confiança. Nossa confiança é proporcional ao nosso conhecimento de Deus”. (G. Campbell Morgan)
Conclusão
Então, a que conclusão você conseguiu chegar está noite. Diante das adversidades e problemas da vida qual será sua resposta. Do que você está mais consciente: da sua luta e sofrimento ou de um Deus que na sua graça e misericórdia lhe concedeu o maior bem que alguém poderia ter: a salvação de sua alma? Como você irá responder quando as circunstâncias parecerem contradizer o caráter e as promessas de Deus. Como você responderá quando a vida não fizer sentido? Irá reclamar, murmurar ou descansar e confiar?
O livro do profeta Habacuque nos ensina a encarar nossas dúvidas, angústias e conflitos com honestidade, e também, a levá-los humildemente ao Senhor, e a esperar que sua Palavra nos ensine e, então, adorá-lo a despeito do que estamos pensando, sentindo ou vendo. Jamais devemos esquecer que Deus nem sempre muda as circunstâncias, mas pode nos transformar para enfrentarmos as situações mais difíceis. Isso é viver pela fé.
Tu guardarás em perfeita paz todos que em ti confiam, aqueles cujos propósitos estão firmes em ti. Confiem sempre no Senhor, pois o Senhor Deus é a Rocha eterna.
Lembre-se: o justo viverá pela fé!

Referências para Estudo:
JUNIOR. Jocarli. Estudo expositivo no livro de Habacuque. Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro. 2010
Biblia de Estudo Arqueológica NVI. São Paulo. Editora Vida. 2013.
Bíblia de Estudo Almeida RA. Barueri/SP. SBB, 1999.
HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo. Editora Vida, 2005.



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