segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

A Escritura e as boas obras

Andamos por um caminho estreito que pode nos levar a erros em nossa interpretação e entendimento das doutrinas bíblicas. O Espírito Santo é que pode iluminar nossa mente na compreensão da verdade e encontrar um equilíbrio em nossa caminhada. Na guerra pela verdade, muitas vezes nos apegamos a combater a própria verdade de Deus. Quando deixados a depender de nossos próprios recursos, fica praticamente impossível manter a linha certa da verdade, e cada um passa a defender a sua própria interpretação da verdade. Há muitas doutrinas complexas que nos levam a isso, tais como a doutrina da soberania de Deus e a responsabilidade do homem, a doutrina da eleição e da proclamação universal do Evangelho, a justificação pela fé e a prática de boas obras. Se, por um lado, alguns têm errado por atribuir uma posição que a Bíblia não ensina, por outro lado, também é certo que outros têm deixado de atribuir às boas obras o devido lugar que a Bíblia lhe dá.

Em alguns segmentos do cristianismo a fé, ainda que não negada totalmente, é desprezada devido ao zelo pelas boas obras. Não há dúvida de que muitos assumem a postura, por não darem o devido valor a fé, com medo de cair no erro de confiar em suas próprias realizações como mérito de salvação. Contudo, devemos buscar o equilíbrio para não tirar o devido valor de um em detrimento do outro. Não podemos negar a verdade de que a salvação é pela graça, mediante a fé, e isso não vem de nós, para que ninguém se glorie. Porém, a prática das boas obras tem o seu devido lugar em nossa caminhada cristã, não como meio de salvação, mas demonstração de uma fé autêntica conforme nos ensina Tiago em sua carta: “Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta. (Tiago 2:17).

A Bíblia é muito enfática em dizer que a salvação é pela graça, mediante a fé no sangue de Cristo. Mas, também assegura que sem a santificação (o que envolve a prática de obras), ninguém verá a Deus. A Palavra nos educa para vivermos uma vida de fé e santidade na Presença de Deus. Não podemos desvincular a fé em Cristo dos frutos gerados por essa mesma fé na prática de boas obras. Fazer objeção a fé e a prática de boas obras como resultado de um coração regenerado que busca obedecer ao seu Senhor é perder a conexão entre a justificação e a santificação. A vida celestial será o término e a consumação da vida dos que foram regenerados e viveram neste mundo (veja o Salmo 15). Se alguém não odiou o pecado e não amou a santidade nesta vida, certamente não o fará na vida eterna. Muitos são os que querem ir para o céu, mas são poucos os que querem trilhar o caminho da santidade que o leva até lá. As boas obras não são mérito para a salvação, mas elas estão ligadas a ela (Ef 2.10). As boas obras não são a causa da salvação, mas está entre os meios que revelam o coração regenerado. A vida de obediência diária mostra nosso verdadeiro amor por Cristo (Jo 14.15).

Verdadeiro discípulos de Cristo confirmam sua profissão de fé pelo seu testemunho de vida (Mt 5.16). O desígnio das boas obras é glorificar a Deus. As boas obra não visam chamar atenção para nós, mas elas servem para glorificar a Deus. Elas possuem qualidade e caráter que revelam que nada de bom pode proceder de uma natureza caída. É um fruto sobrenatural que requer uma raiz sobrenatural. Deus é glorificado no seu povo quando estes vivem e praticam as obras para os quais foram criados. A verdadeira natureza das boas obras revela o amor de Deus no coração daquele que crê. Por amar a Deus, ele obedece, a obediência é fruto do amor e não da imposição de uma lei. Todos os homens podem praticar obras que são louváveis aos olhos da sociedade, mas somente os que foram regenerados é que podem praticar obras que glorificam a Deus. O coração não regenerado tem prazer em fazer coisas que sejam apenas para o seu inteiro agrado. No íntimo seus corações são orgulhosos e querem a recompensa (elogio), mas quem verdadeiramente tem um coração transformado, sacrifica-se a si mesmo seguindo o exemplo de Jesus (João 3.16 e 1João 3.16). Somente o Espírito é que nos capacita a viver dessa forma. Dessa maneira, somos libertos da autossuficiência e levados a perceber que todas as fontes de nossas ações procedem de Deus (Fp 2.13). Nada honra tanto a Cristo como o fato de que aqueles que receberam a salvação vivam constantemente a sua vida cristã, no Espírito de Cristo, que viveu sua vida para glorificar o Pai.

A prática das boas obras é um ato de adoração a Deus que o glorificam e exaltam pela sua Obra salvadora na vida daquele que creu. A nossa leitura da Palavra deve nos levar a refletir o caráter de Cristo em nossas vidas por meio das boas obras que praticamos. Como filhos de Deus devemos ser melhores cidadãos da Terra que vivem os valores do Reino de Deus.

Fonte: Enriquecendo-se com a Bíblia

Autor: A. W. Pink

Editora Fiel

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