Andamos por um caminho estreito
que pode nos levar a erros em nossa interpretação e entendimento das doutrinas
bíblicas. O Espírito Santo é que pode iluminar nossa mente na compreensão da
verdade e encontrar um equilíbrio em nossa caminhada. Na guerra pela verdade,
muitas vezes nos apegamos a combater a própria verdade de Deus. Quando deixados
a depender de nossos próprios recursos, fica praticamente impossível manter a
linha certa da verdade, e cada um passa a defender a sua própria interpretação
da verdade. Há muitas doutrinas complexas que nos levam a isso, tais como a
doutrina da soberania de Deus e a responsabilidade do homem, a doutrina da
eleição e da proclamação universal do Evangelho, a justificação pela fé e a
prática de boas obras. Se, por um lado, alguns têm errado por atribuir uma
posição que a Bíblia não ensina, por outro lado, também é certo que outros têm
deixado de atribuir às boas obras o devido lugar que a Bíblia lhe dá.
Em alguns segmentos do
cristianismo a fé, ainda que não negada totalmente, é desprezada devido ao zelo
pelas boas obras. Não há dúvida de que muitos assumem a postura, por não darem
o devido valor a fé, com medo de cair no erro de confiar em suas próprias
realizações como mérito de salvação. Contudo, devemos buscar o equilíbrio para
não tirar o devido valor de um em detrimento do outro. Não podemos negar a
verdade de que a salvação é pela graça, mediante a fé, e isso não vem de nós,
para que ninguém se glorie. Porém, a prática das boas obras tem o seu devido
lugar em nossa caminhada cristã, não como meio de salvação, mas demonstração de
uma fé autêntica conforme nos ensina Tiago em sua carta: “Assim, também a fé,
se não tiver obras, por si só está morta. (Tiago 2:17).
A Bíblia é muito enfática em
dizer que a salvação é pela graça, mediante a fé no sangue de Cristo. Mas,
também assegura que sem a santificação (o que envolve a prática de obras),
ninguém verá a Deus. A Palavra nos educa para vivermos uma vida de fé e
santidade na Presença de Deus. Não podemos desvincular a fé em Cristo dos
frutos gerados por essa mesma fé na prática de boas obras. Fazer objeção a fé e
a prática de boas obras como resultado de um coração regenerado que busca
obedecer ao seu Senhor é perder a conexão entre a justificação e a santificação.
A vida celestial será o término e a consumação da vida dos que foram regenerados
e viveram neste mundo (veja o Salmo 15). Se alguém não odiou o pecado e não
amou a santidade nesta vida, certamente não o fará na vida eterna. Muitos são
os que querem ir para o céu, mas são poucos os que querem trilhar o caminho da santidade
que o leva até lá. As boas obras não são mérito para a salvação, mas elas estão
ligadas a ela (Ef 2.10). As boas obras não são a causa da salvação, mas está
entre os meios que revelam o coração regenerado. A vida de obediência diária
mostra nosso verdadeiro amor por Cristo (Jo 14.15).
Verdadeiro discípulos de
Cristo confirmam sua profissão de fé pelo seu testemunho de vida (Mt 5.16). O
desígnio das boas obras é glorificar a Deus. As boas obra não visam chamar
atenção para nós, mas elas servem para glorificar a Deus. Elas possuem
qualidade e caráter que revelam que nada de bom pode proceder de uma natureza
caída. É um fruto sobrenatural que requer uma raiz sobrenatural. Deus é glorificado
no seu povo quando estes vivem e praticam as obras para os quais foram criados.
A verdadeira natureza das boas obras revela o amor de Deus no coração daquele
que crê. Por amar a Deus, ele obedece, a obediência é fruto do amor e não da
imposição de uma lei. Todos os homens podem praticar obras que são louváveis
aos olhos da sociedade, mas somente os que foram regenerados é que podem praticar
obras que glorificam a Deus. O coração não regenerado tem prazer em fazer
coisas que sejam apenas para o seu inteiro agrado. No íntimo seus corações são
orgulhosos e querem a recompensa (elogio), mas quem verdadeiramente tem um
coração transformado, sacrifica-se a si mesmo seguindo o exemplo de Jesus (João
3.16 e 1João 3.16). Somente o Espírito é que nos capacita a viver dessa forma. Dessa
maneira, somos libertos da autossuficiência e levados a perceber que todas as
fontes de nossas ações procedem de Deus (Fp 2.13). Nada honra tanto a Cristo
como o fato de que aqueles que receberam a salvação vivam constantemente a sua
vida cristã, no Espírito de Cristo, que viveu sua vida para glorificar o Pai.
A prática das boas obras é um
ato de adoração a Deus que o glorificam e exaltam pela sua Obra salvadora na
vida daquele que creu. A nossa leitura da Palavra deve nos levar a refletir o
caráter de Cristo em nossas vidas por meio das boas obras que praticamos. Como
filhos de Deus devemos ser melhores cidadãos da Terra que vivem os valores do
Reino de Deus.
Fonte: Enriquecendo-se com a Bíblia
Autor: A. W. Pink
Editora Fiel
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